Medir o Racismo, Vencer as Discriminações, de Thomas Piketty, publicado pela Temas e Debates, traduzido por Artur Lopes Cardoso, é um ensaio com cerca de 100 páginas que se lê num ápice, pela clareza do discurso e pelo encadeamento lógico dos argumentos. O aclamado autor francês de O Capital no Século XXI (2014), professor catedrático e codiretor do World Inequality Lab, parte da actual situação daquele que é o seu país para propor um novo modelo francês, mas também europeu, transnacional, universalista, de luta contra as discriminações. Piketty tem em conta o que se passa na Europa, mas também em países como os Estados Unidos ou a Índia, de modo a evidenciar como, apesar de muitas nações se terem construído sobre múltiplas mestiçagens, se tem alimentado, nomeadamente pela extrema direita, um discurso de “repúdio radical da diversidade das origens e das tradições culturais, religiosas ou relativas ao vestuário, reforçada pela perceção distorcida de uma minoria acusada de beneficiar de todos os privilégios e roubar os empregos e salários dos autóctones” (p. 8). Ver artigo
Perder o Paraíso, da conceituada e premiada jornalista Lucy Jones, é um apaixonante ensaio publicado pela Temas e Debates, com tradução de Marta Pinho (Lufada de Letras), considerado Livro do Ano para o Times e o Telegraph e vencedor do Society of Authors’ K. Blundell Trust Award. Ver artigo
O Século da Solidão, de Noreena Hertz, publicado pela Temas e Debates, é um trabalho de investigação apaixonante em que a autora revela como, apesar de estarmos permanentemente conectados, vivemos uma crise global de solidão, característica definidora do século XXI que só se agravou com o confinamento resultante da pandemia, isolando-nos de amigos e familiares, privando-nos das rotinas sociais e lugares de conforto. Predomina mesmo a cultura de se estar permanentemente ligado, assim como de evidenciar trabalho e produtividade. Ver artigo
Viagens ao Outro Lado do Mundo, de Sir David Attenborough, publicado pela Temas e Debates, é a apaixonante sequela de Aventuras de Um Jovem Naturalista (2019). No final do ano passado, publicou-se ainda Uma Vida no Nosso Planeta – O meu testemunho e a minha visão para o futuro, a acompanhar o documentário disponível na Netflix. Ver artigo
A Ciência do Sistema Imunitário, de Matt Richtel, publicado pela Temas e Debates, é um livro de não-ficção de quase 500 páginas que se lê com o fôlego de uma narrativa. Este livro baseia-se numa aclamada série de artigos sobre imunoterapia do The New York Times e em conversas que o autor manteve com dezenas de cientistas de renome mundial: «O somatório dessa minha viagem de aprendizagem compõe uma série de quadros e de lições, histórias de pessoas e fulcrais momentos científicos «eureca», fazendo com que o presente livro seja mais uma narrativa do que um manual científico.» (p. 23) Ver artigo
Os Seis Segredos da Inteligência: o que a sua educação não conseguiu ensinar-lhe, de Craig Adams, agora publicado pela Temas e Debates, é um livro fundamental para qualquer pensador ou pedagogo. O autor parte da premissa controversa de que, quando se fala dos nossos tempos como a era da pós-verdade, o problema assenta sobretudo numa educação moderna que não nos ensina a pensar por nós próprios. Por conseguinte, a inteligência, ou a falta dela, isto é, a forma como pensamos, é o resultado daquilo que nos foi incutido, e tem como reflexo a aceitação passiva da desinformação, das fake news, dos debates polémicos e vazios nas redes sociais, em que são debitados argumentos tão ocos quanto veementes, das mentiras descaradas de um político nas suas declarações, ou das estatísticas apresentadas de forma tendenciosa (nestes últimos dois casos, o autor apresenta e desmonta exemplos concretos). Ver artigo
Por outras palavras, esta é uma memória. Ao contrário de Factfulness, é muito escassa em números. Em vez disso, conto histórias sobre ter conhecido pessoas que me abriram os olhos e me fizeram recuar e pensar duas vezes.» (p. 10)
Como Aprendi a Compreender o Mundo, publicado pela Temas E Debates, é o livro de memórias de Hans Rosling, que se tornou mundialmente conhecido como o génio sueco da estatística, mas cuja história de vida é totalmente distinta. Quando em 2016 se confirma o diagnóstico de cancro do pâncreas escrever este livro, com a colaboração da jornalista sueca Fanny Härgestam, torna-se uma prioridade. O autor faleceu em 2017.
Hans Rosling começa por contar a história da sua família e de como as mudanças ao longo das últimas gerações o ajudaram a perspectivar a evolução num mundo mais vasto, ao testemunhar como a vida dos seus avôs e pais, que eram pobres, mudou, conforme a Suécia, um estado social em expansão, melhorou as suas condições económicas e de saúde. Por conseguinte, nos anos 60 na Suécia, era comum crescer numa casa simples e o pai ser operário numa fábrica, mas «ser o primeiro da família a ir para a universidade era raro e especial» (p. 39). Hans estava ainda no primeiro ano de medicina quando conhece Eduardo Mondlane, um professor assistente moçambicano em Nova Iorque que deixou a carreira académica para passar a liderar a FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique. No fim desse encontro, Mondlane faz Hans prometer que irá trabalhar em Moçambique como médico, dois anos depois Mondlane é assassinado, mas Hans cumprirá a sua promessa. Um dos aspectos mais curiosos desta memória do autor é a relação que estabelece com o Moçambique pós-independência (ele e a mulher aprenderam português ainda antes da viagem, como parte dos preparativos). Apesar de este livro cruzar várias experiências ao longo da vida do autor, com passagem por diversos locais como Cuba ou o combate na linha da frente à epidemia de ébola na África Ocidental, é claro como a sua experiência e aprendizagem em Moçambique será determinante, apesar de durar 2 anos apenas, e constituir praticamente metade destas memórias, até na forma como o autor revela uma imensa humildade e humor perante os desafios que enfrentou.
Hans Rosling foi médico, investigador e professor de Saúde Internacional. Foi conselheiro da Organização Mundial de Saúde e da UNICEF e cofundador dos Médicos sem Fronteiras na Suécia e da Gapminder Foundation. Fez parte da lista da Times das cem pessoas mais influentes do mundo e as suas conferências TED foram vistas mais de 35 milhões de vezes. Hans morreu em 2017, tendo dedicado os seus últimos anos à escrita de Factfulness, publicado pela Temas e Debates em 2019.
Dividido em três partes, o autor passa em revista, na primeira parte, os últimos 80 anos, de 1937 a 2020 (ano em que o livro foi terminado e publicado), começando quando aos 11 anos vagueava em busca de fósseis como amonites. Passando por diversos anos cruciais na sua vida, do seu percurso de estudante de Ciências Naturais a produtor da BBC, o autor cinge-se sobretudo à sua relação com o mundo natural, no que foi observando nas suas várias expedições, enquanto testemunha de um mundo que se tornou cada vez mais pequeno e menos selvagem, conforme o ser humano continuou a assumir que este era o seu planeta e podia explorar os seus recursos ilimitadamente. Na segunda parte, a mais breve, é feita uma projecção da evolução do nosso impacto no mundo nas próximas décadas, se não encontrarmos forma de aligeirar a nossa pegada. Na terceira parte, e a mais cativante, revela como podemos ajudar a repor a biodiversidade do planeta, de modo a alcançar uma estabilidade autosustentável, num período em que começámos finalmente a perceber que existe uma associação entre vírus emergentes e a morte do Planeta (p. 132). Com exemplos fascinantes de diversos países, como a Nova Zelândia, e com dados precisos e actuais de vários relatórios, o autor deixa-nos neste livro, de leitura fácil e acessível, um derradeiro apelo. Depois de anos a falar em sítios como as Nações Unidas ou o Fundo Monetário Internacional, o autor dirige-se directamente a cada um de nós numa chamada final à consciência que ainda podemos revelar nos mais pequenos passos de forma a salvar não o mundo mas a nós mesmos, pois o mundo, esse, é certo que encontrará forma de nos sobreviver, regenerando-se, como já aconteceu nas anteriores 5 extinções.
Uma nota final para este livro enquanto objecto. Um belíssimo livro, pesado, em papel reciclado, de páginas densas, olorosas, enriquecido por belíssimas fotografias coloridas e diversas outras ilustrações.
A Vida Extraordinária do Português que Conquistou a Patagónia, de Mónica Bello, publicado pela Temas e Debates e Círculo de Leitores, livro de não-ficção que tem mais de romance do que de biografia, é a reescrita de uma vida, com a poética inventiva e a prosa pujante próprias da literatura. Ainda que suportada por documentos oficiais, cartas, relatos, fotografias, biografias de seus contemporâneos e entrevistas de viva voz com aventureiros que ainda se terão cruzado em vida com José Nogueira, Mónica Bello reinventa a seu bel-prazer a vida do (segundo) português mais conhecido na Patagónia, terra de fim do mundo a que Fernão de Magalhães emprestou o seu nome ao atravessar o estreito.
Como tantos portugueses desta e de outras épocas, José, nascido em 1845, parte (aos 12 anos) um pouco por acidente pelo mundo fora, e era (até à publicação deste livro) mais conhecido no Chile do que em Portugal, como um dos fundadores da Patagónia. Neste documento historiográfico – pontuado por «Terá sido», «Pode ser», «Pode até ser», «Talvez» – «todas as hipóteses e outras ainda podem ser verdadeiras» (p. 45). Indiscutivelmente verdade é que, após anos em alto-mar, terá desembarcado em 1866 «para assentar casa a meio-caminho entre dois oceanos, nove minutos a sul do paralelo 53, na margem norte do estreito de Magalhães – Punta Arenas, então o lugar mais austral do Planeta habitado em permanência» (p. 52).
O nosso explorador instala-se nessa colónia penal, dominando a caça de lobos-marinhos no Pacífico Sul por mais de 15 anos, com uma média anual de 4 mil peles que exportará para Londres; às peles, junta o negócio ocasional de salvados e fretes-marítimos, constituíndo uma frota que o torna o primeiro armador da zona; abre um pequeno armazém que se converte na casa de comércio mais próspera de Punta Arenas; descobre ouro; e quando o governo chileno lhe entrega um milhão de hectares na Terra do Fogo, área deserta e gelada onde nada cresce, mas que José Nogueira teria de pôr a produzir sob risco de a perder, lembra-se de criar ovelhas – que se transformam numa «fonte inesgotável de lã pura que a Europa pagava a bom peso de ouro» (p. 19).
Alternando entre o presente e o passado, a autora perde-se muitas vezes nas malhas de outras histórias que com esta se cruzam, fazendo deste livro o testemunho de vida de um extraordinário lusitano, mas também um relato fundacional da Patagónia, num amplo quadro dessa desolada terra de estrangeiros, aventureiros, índios, deserdados, marinheiros e caçadores.
«Os homens que vivem no Sul dizem que para lá do paralelo 40 não há lei. E que para além dos 50 graus, nem Deus existe.» (p. 51)
O maestro Miguel Graça Moura tomou a iniciativa da tradução, cuja edição foi acolhida pela Temas e Debates e o Círculo de Leitores, e pontua as notas do autor com os seus próprios contributos, ciente da «crescente incultura geral», nomeadamente entre as gerações mais novas, como os estudantes universitários.
Étienne Liebig afirma que a música «é uma vibração que sacode o meio ambiente pondo as moléculas em movimento, como todos os sons.» (p. 13) e que acciona «uma aparelhagem complexa nos nossos ouvidos. Estes transformam a vibração em impulsos elétricos para que diferentes áreas do nosso cérebro os recebam, os leiam e os interpretem segundo diferentes parâmetros para nos dar o sentimento da música.» (p. 17)
Sentimos a música antes de a ouvir e essa sensação é tão cerebral quanto física, como sucede quando de súbito a pele do braço se arrepia e os pêlos se eriçam. O prazer que sentimos com a música vem da identificação da sua complexa estrutura, mas também de dois elementos tão antagónicos quanto centrais à música: a antecipação e a surpresa.
«Os compositores conhecem muito bem este fenómeno da espera que deixa o auditor em estado de transe auditivo («vem, não vem?») e um certo tipo de satisfação quando por fim se ouve o refrão, o chorus, a entrada da orquestra, o ritmo tão esperado.» (p. 18)
A música pode ser um catalisador da memória, como a madalena de Proust, pois como se explica que quando ouvimos certas músicas somos transportados para a idade em que as ouvimos pela primeira vez?
«Esta necessidade de reescutar, seja a mesma coisa, seja algo de semelhante, está ligada à nossa memória auditiva que armazena os timbres, os ritmos, as vozes, as tonalidades que nos deram prazer e que procuramos durante toda a vida com o objetivo de “curtir” de novo. (p. 19)
A ligação entre música e sexo parece natural, mas Étienne Liebig – nascido em Montreuil (França) em 1955, músico, musicoterapeuta de crianças com autismo, animador social, membro de um quarteto de jazz, autor de várias obras e ensaios – é um dos poucos que se dedicou a estudar o assunto: «quando se vê no cinema uma cena erótica, escuta-se um certo tipo de música e não outro. Se se recorda um lugar de sedução e de encontros amorosos, ouve-se mentalmente o baile, a orquestra ou a aparelhagem sonora. As canções falam de amor, de desejo. As estátuas gregas apresentam flautas ou liras na nudez branca do mármore, e quando se lê biografias de músicos de rock (e não só), quase nem é surpresa descobrir nelas apetites sexuais insaciáveis!»
Dividido em três partes, o livro começa por analisar a afinidade fisiológica e psicológica entre o prazer sexual e sensorial de ouvir música, em que o nosso corpo pode ser tocado como um instrumento musical; percorre a história da música desde os primórdios da humanidade, de um ponto de vista antropológico e histórico, procurando demonstrar como em todas as épocas e culturas a música e o sexo estiveram intimamente ligados; e termina com um esboço de um estudo (deixando pontas soltas para futuras leituras) sobre todas as formas de arte – pintura, escultura, dança, teatro, literatura, cinema, ópera, etc. – em que a música exprime a sexualidade. A obra contém ainda breves biografias de músicos e compositores, com revelações e curiosidades surpreendentes, e imensas referências – do erudito ao popular, dos videoclips aos filmes – onde a cultura e o humor são parceiros.
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