Os Armários Vazios é o mais recente título de Annie Ernaux a integrar o catálogo da chancela Livros do Brasil. Publicado pela primeira vez em Portugal representa a estreia literária da autora vencedora do Nobel em 2022, tendo este livro sido originalmente publicado justamente há 50 anos, em 1974. Ver artigo
A Vergonha, da autora francesa Annie Ernaux, laureada com o Nobel, é o novo livro a integrar o catálogo das suas obras na coleção Dois Mundos, com o selo da editora Livros do Brasil, com tradução de Maria Etelvina Santos. Ver artigo
Não Saí da Minha Noite é o oitavo título de Annie Ernaux a integrar o catálogo da Livros do Brasil. Ver artigo
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas Universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. Ver artigo
Uma Paixão Simples, de Annie Ernaux, com tradução de Tereza Coelho, publicado na coleção Miniatura da editora Livros do Brasil, é um pequeno mas controverso livro de 72 páginas, uma narrativa que quebra os estereótipos do romance sentimental, adaptada ao cinema por Danielle Arbid.
Depois de ter ficado surpreso e maravilhado com a técnica narrativa da autora em Os Anos, publicado também em 2020 pela Livros do Brasil (talvez um dos melhores livros do ano passado, e apresentado no Postal do Algarve), li este livro com expectativa.
A história de uma mulher culta, independente, divorciada, com filhos adultos, que vive numa completa suspensão a viver uma paixão cheia de regras (que a si própria impõe), à espera dos momentos livres de um homem casado, estrangeiro, mais jovem (quando o reencontra, finda a paixão, ele terá então 38 anos): «Tudo era uma carência interminável, a não ser o momento em que estávamos juntos a fazer amor. E, além disso, obcecava-me o momento seguinte, em que ele se ia embora. Vivia o prazer como uma dor futura.» (p. 41)
Podemos supor que a narradora escreve como se dirigisse uma carta a um eu mais jovem, sem admoestar ou zombar a sua cegueira de então, mas na verdade, naquele que parece ser um texto assumidamente autobiográfico tão honesto quanto intenso, ela escreve para reviver essa mesma paixão pois quando começou a escrever era «para continuar nesse tempo» (p. 55). Da mesma forma que ao vivê-la tinha a impressão de estar «a escrever um livro, a mesma necessidade de não falhar nenhuma cena, a mesma preocupação com todos os pormenores» (pp. 17-18). Uma paixão que pode ser simples, mas nem por isso menos plena de significado ao ponto de nela se consumir: «E até pensei que não me importava de morrer depois de ter ido até ao fim desta paixão – sem dar um sentido preciso a «até ao fim» -, da mesma maneira que poderia morrer depois de ter acabado de escrever isto, daqui a uns meses.» (p. 18)
Para esta narradora, corajosa e contida, não se trata de «explicar» a sua paixão, mas de «expô-la», advertindo o leitor de que «é um erro comparar aquele que escreve sobre a sua vida com um exibicionista, porque um exibicionista só quer uma coisa, mostrar-se e ser visto no mesmo instante» (p. 37). Mas escrever, ainda que não o assuma plenamente, vai além de um acto egoísta e privado, e é também uma forma de comunicar com o mundo: «Pergunto a mim própria se não escrevo para saber se os outros fizeram ou disseram coisas idênticas, ou então para eles acharem normal sentir essas coisas. Ou mesmo para que as vivam, esquecendo-se de que leram aquilo um dia em qualquer parte.» (p. 59)
E a autora-narradora está ciente do que publicar este texto implica: «Quando eu começar a passar este texto à máquina, e ele me aparecer em caracteres públicos, a minha inocência acabou.» (p. 63)
Depois de ter ficado surpreso e maravilhado com a técnica narrativa da autora em Os Anos, publicado também em 2020 pela Livros do Brasil (talvez um dos melhores livros do ano passado, e apresentado no Postal do Algarve), li este livro com expectativa.
A história de uma mulher culta, independente, divorciada, com filhos adultos, que vive numa completa suspensão a viver uma paixão cheia de regras (que a si própria impõe), à espera dos momentos livres de um homem casado, estrangeiro, mais jovem (quando o reencontra, finda a paixão, ele terá então 38 anos): «Tudo era uma carência interminável, a não ser o momento em que estávamos juntos a fazer amor. E, além disso, obcecava-me o momento seguinte, em que ele se ia embora. Vivia o prazer como uma dor futura.» (p. 41)
Podemos supor que a narradora escreve como se dirigisse uma carta a um eu mais jovem, sem admoestar ou zombar a sua cegueira de então, mas na verdade, naquele que parece ser um texto assumidamente autobiográfico tão honesto quanto intenso, ela escreve para reviver essa mesma paixão pois quando começou a escrever era «para continuar nesse tempo» (p. 55). Da mesma forma que ao vivê-la tinha a impressão de estar «a escrever um livro, a mesma necessidade de não falhar nenhuma cena, a mesma preocupação com todos os pormenores» (pp. 17-18). Uma paixão que pode ser simples, mas nem por isso menos plena de significado ao ponto de nela se consumir: «E até pensei que não me importava de morrer depois de ter ido até ao fim desta paixão – sem dar um sentido preciso a «até ao fim» -, da mesma maneira que poderia morrer depois de ter acabado de escrever isto, daqui a uns meses.» (p. 18)
Para esta narradora, corajosa e contida, não se trata de «explicar» a sua paixão, mas de «expô-la», advertindo o leitor de que «é um erro comparar aquele que escreve sobre a sua vida com um exibicionista, porque um exibicionista só quer uma coisa, mostrar-se e ser visto no mesmo instante» (p. 37). Mas escrever, ainda que não o assuma plenamente, vai além de um acto egoísta e privado, e é também uma forma de comunicar com o mundo: «Pergunto a mim própria se não escrevo para saber se os outros fizeram ou disseram coisas idênticas, ou então para eles acharem normal sentir essas coisas. Ou mesmo para que as vivam, esquecendo-se de que leram aquilo um dia em qualquer parte.» (p. 59)
E a autora-narradora está ciente do que publicar este texto implica: «Quando eu começar a passar este texto à máquina, e ele me aparecer em caracteres públicos, a minha inocência acabou.» (p. 63)
Annie Ernaux nasceu na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017) e o Prémio Formentor de las Letras (2019) pelo conjunto da sua obra.
Os Anos, de Annie Ernaux, publicado pela Livros do Brasil não é um romance convencional. Se nas primeiras páginas, que constituem como que um primeiro capítulo, nos surge um género de inventário de imagens, de instantâneos, como um dicionário que vai do berço à morte, a partir daí as restantes quase 200 páginas do romance desdobram-se como uma crónica dos tempos. Listam-se fotografias, resgatadas a um arquivo familiar, começando pela primeira foto de um bebé, em 1941; recuperam-se, seguidamente, narrativas familiares que são, como se refere, indissociáveis das narrativas sociais; citam-se ocasionalmente frases retiradas de um diário; existem inclusive passagens que desenham o plano do livro que intenta «captar o reflexo projetado pela história coletiva no ecrã da memória individual» (p. 43). Mas a narração destas memórias, que vai de 1941 a 2006, é sempre apresentada na 3.ª pessoa, referindo-se a uma «ela», tecendo uma narrativa distanciada e exterior por ser uma história colectiva e transpessoal, mas também, possivelmente, por ser essa a ideia central representada no romance: a ideia do que realmente fica de nós, ao passar pelo mundo, e o pouco que conseguimos lembrar da pessoa que fomos, conforme passam os anos, tal como «ela» (essa mulher nunca nomeada) não se consegue reencontrar na pessoa que foi e já mal consegue lembrar.
«Gostaria de reunir múltiplas imagens dela própria, separadas, sem relação entre si, ligadas por um fio narrativo, o da sua existência, desde a Segunda Guerra Mundial até aos dias de hoje. Uma existência particular, portanto, mas também incorporada no movimento de uma geração.» (p. 144)
Definir, portanto, esta reconstrução dos 60 anos da vida de uma mulher, que por sua vez se inscreve na história de um país, França, como um romance biográfico seria bastante simplista. Este livro inédito em Portugal, agora publicado na coleção Dois Mundos, recupera mais de meio século da história do mundo, em décadas decisivas, detendo-se muito particularmente no Maio de 68.
Os Anos foi editado em França em 2008, no mesmo ano em que a autora foi galardoada com o Prémio de Língua Francesa pelo conjunto da sua obra. Esta obra confirma Annie Ernaux como uma das mais importantes vozes da literatura francesa, recebeu várias distinções, como o Prémio Marguerite Duras 2008 e o Prémio Strega 2016, e foi finalista do Prémio Man Booker Internacional de 2019.
«Gostaria de reunir múltiplas imagens dela própria, separadas, sem relação entre si, ligadas por um fio narrativo, o da sua existência, desde a Segunda Guerra Mundial até aos dias de hoje. Uma existência particular, portanto, mas também incorporada no movimento de uma geração.» (p. 144)
Definir, portanto, esta reconstrução dos 60 anos da vida de uma mulher, que por sua vez se inscreve na história de um país, França, como um romance biográfico seria bastante simplista. Este livro inédito em Portugal, agora publicado na coleção Dois Mundos, recupera mais de meio século da história do mundo, em décadas decisivas, detendo-se muito particularmente no Maio de 68.
Os Anos foi editado em França em 2008, no mesmo ano em que a autora foi galardoada com o Prémio de Língua Francesa pelo conjunto da sua obra. Esta obra confirma Annie Ernaux como uma das mais importantes vozes da literatura francesa, recebeu várias distinções, como o Prémio Marguerite Duras 2008 e o Prémio Strega 2016, e foi finalista do Prémio Man Booker Internacional de 2019.
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