O abismo vertiginoso – Um mergulho nas ideias da física quântica, chegado às livrarias em junho deste ano, com tradução de Silvana Corbucci, é o terceiro livro de Carlo Rovelli publicado pela Objectiva, depois de Sete breves lições de física e A ordem do tempo. O autor afirma escrever para quem não conhece a física quântica, de modo a poder compreender, no essencial, “o que ela é e quais as suas implicações”. Escrito e pensado ambiciosamente, tendo em vista quer o público leigo quer cientistas e filósofos, o autor procura clarificar o melhor possível “uma teoria que se encontra no centro da obscuridade da ciência” (p. 13). Carlo Rovelli debruça-se sobretudo sobre os quanta. O principal objetivo da sua pesquisa em física teórica tem sido sobretudo compreender a natureza quântica do espaço e do tempo,tentando tornar a teoria dos quanta coerente com as descobertas de Einstein. Mas este é também um livro que tenta responder às mesmas perguntas da adolescência que levaram Rovelli a estudar física na universidade: “entender a estrutura da realidade, entender como a nossa mente funciona, como faz para compreender a realidade” (p. 183). Ver artigo
Sete breves lições de física, chegado às livrarias em Outubro de 2015, com tradução de Vasco Gato, foi o primeiro livro de Carlo Rovelli publicado em Portugal pela Objectiva. O autor escreve estas lições “para quem não conhece, ou conhece pouco, a ciência moderna” (p. 9). Oferece-nos “um olhar sobre a realidade, um pouco menos velado do que a nossa ofuscada banalidade quotidiana” (p. 17). Este livro surge assim como uma súmula da física, ciência que “abre a janela para vermos longe”, ajudando-nos a desmontar preconceitos que toldam a nossa “imagem intuitiva do mundo”, “parcial, paroquial, desadequada” (p. 48). Até porque nós, “seres conscientes”, vivemos num universo em que o tempo é simultâneo, mas habitamos o presente porque vemos apenas uma imagem esbatida do mundo” (p. 59). Ver artigo
Hoje aquilo que é considerado viral no mundo digital significa que é um êxito, o que não deixa de ser curioso se considerarmos estes tempos estranhos em que é decretada uma pandemia. E o que Paulo Pena faz é justamente demonstrar como as notícias falsas são, também elas, uma epidemia global, capaz de destabilizar sistemas democráticos e alimentar o ódio que engrossa as fileiras da extrema-direita. Essa é aliás uma das prioridades que deveria ser em conta actualmente pelos governos: controlar a desinformação viral, que pode ser fatal, sobre este novo vírus. Até porque fenómenos como o Brexit, a eleição de Trump ou de Bolsonaro são justamente sintomas do efeito da desinformação e das mentiras propagadas como verdades, determinantes para decidir eleições e provocar resultados inimagináveis.
Em Portugal, onde 63% das pessoas afirmam manter-se informadas consultando as notícias disseminadas nas redes sociais, existem mais de 40 sites especialmente destinados a produzir informação falsa, além de também se dedicam a copiar o que outros jornais escrevem. Mas para que as fake news se propaguem e cheguem a um número estimado em 2,5 milhões de utilizadores de redes sociais é preciso que esta informação seja partilhada pelas massas. A publicidade já era a principal fonte de receitas do jornalismo, além do público que paga e subscreve o acesso à informação, mas hoje qualquer anunciante pode recorrer directamente ao Facebook ou à Google para chegar ao público específico que lhe interessa, e por isso, uma mentira eficaz, ou um título inexacto e enganoso numa notícia é o melhor garante para um maior número de clicks que, por conseguinte, se traduzem em mais dinheiro para os autores.
Os nossos dados privados são hoje mercadoria valiosa, uma espécie de novo petróleo. E estão disponíveis online, podendo ser analisados por algoritmos que trabalham num sistema de inteligência artificial que filtram a informação que “sabem” que nos pode interessar, enredando-nos nas malhas desta rede digital: «o negócio somos nós. Ao entregarmos a estas plataformas, gratuitamente, os nossos dados, informação não editada sobre nós e sobre a vida que levamos, permite-lhes oferecer-nos, em troca, os serviços que elas criaram. Pode parecer justo e inconsequente, mas, na verdade, é o equivalente moderno daqueles encontros comerciais entre europeus e nativos americanos no século XVI: um colar de contas de vidro em troca de ouro.» (p. 16)
Em capítulos onde a história pessoal do autor, nomeadamente os momentos da sua infância em que o pai o ensinava a pescar enguias, com a própria história da enguia, de Aristóteles a Freud, com especial destaque para Johannes Schmidt, um biólogo marinho que seguiu o percurso migratório das enguias até ao Mar dos Sargaços, a narrativa serpenteia num crescendo subtil, cruzando as mais diversas áreas: da sexualidade à filosofia, da economia à culinária, da religião à ciência, e da literatura ao ambientalismo.
Da mesma forma que se esquiva, escorregadia, quando a procuramos agarrar, a enguia permanece ainda hoje, depois de séculos de observação e especulação, um mistério. Na zoologia, aliás, costuma designar-se algo insondável como «a questão da enguia». Sabe-se que faz uma longa viagem desde o Mar dos Sargaços e que a ele regressa para se reproduzir, mas não se sabe como se orienta ou como percorre 7 a 8 mil quilómetros em poucos meses, nem nunca alguém observou a sua reprodução. Hermafrodita, quando finalmente se descobriu os órgãos reprodutivos numa enguia a questão da sua reprodução tornou-se o centro do interesse científico do Iluminismo. O próprio Freud viveu dias a observar e dissecar enguias, mas foi incapaz de descobrir o seu sexo, o que pode muito bem explicar a sua desistência das ciências naturais e a sua crescente obsessão pela sexualidade do ser humano. A enguia passa por diversas metamorfoses, e prefere as águas mais profundas, vivendo pacientemente na escuridão, diz-se até que mais de cem anos, e morre provavelmente assim que se reproduz. Permanece viva a saracotear-se mesmo sem cabeça, anda no mar e na terra, e parece capaz de ressuscitar, mas recusa-se a viver em cativeiro. A sua carne tem um sabor gorduroso e «ligeiramente selvagem» capaz de deixar o narrador nauseado – e muitos de nós, eu inclusive – mas é um pilar da culinária sueca, onde se celebra até a festa da enguia tradicional, e de outros países, além de um dos alimentos mais procurados na cozinha japonesa. Uma comida caseira simples que movia a classe trabalhadora, rica em proteína e mais barata do que a carne, era procurada pelos pobres e desprezada pelos ricos. A pesca da enguia na costa sueca é uma tradição que persiste desde a Idade Média, cujo segredo é transmitido oralmente, e se tornou em património cultural. Como uma pescadinha de rabo na boca, à medida que a sua extinção parece iminente, o interesse científico pela enguia aumenta, podendo implicar a proibição total da sua pesca na Europa, o que significa, por arrastamento, que se perde parte da cultura de uma comunidade. E o mistério que sempre envolveu a enguia pode agora implicar o desaparecimento da espécie, porque tal como a sexta extinção é provocada pelo ser humano, é apenas ele quem pode encontrar respostas, se a conseguir atrair do oculto em que se esconde.
Patrik Svensson nasceu em 1972 na Suécia e é jornalista de artes e cultura no jornal Sydsvenskan. Escreveu este seu primeiro livro como uma homenagem ao pai e a um dos animais mais enigmáticos do mundo.
A Hora Mais Negra procura dar a conhecer um dos maiores líderes do século XX, com as suas fragilidades e angústias, nos primeiros dias da sua inesperada ascensão a primeiro-ministro, justamente num período histórico, Maio de 1940, em que se viveu uma grande incerteza, com a Grã-Bretanha em guerra com a Alemanha, que vai derrubando democracias na Europa.
Com recurso ao Legado Churchill e aos Arquivos Churchill, há referências retiradas de obras históricas, cartas, discursos, bem como um arquivo fotográfico e conjecturas de como certas conversas terão decorrido – e aí inicia a magia da realidade ficcionada, do como poderia ter sido… Mas este livro não se trata de um romance mas sim de um documento histórico, resultante da investigação pessoal do autor, enquanto preparava o filme. Pode até surpreender pela forma como se considera como Winston Churchill teria mesmo considerado fazer um pacto com Hitler, entregando de forma definitiva a Europa Central e a França ao domínio nazi e a devolução de colónias alemãs arrestadas durante a Primeira Guerra.
Para quem viu a série The Crown (onde a rainha Isabel II começa justamente o seu reinado quando Churchill, brilhantemente interpretado por John Lithgow, é primeiro-ministro) ou viu o filme Dunkirk, não pode deixar de ter curiosidade em ler esta obra, trazida ao público português pela Objectiva, que se foca entre a promoção improvável deste homem ao poder, a 10 de Maio de 1940, e a evacuação do ameaçado exército britânico em Dunquerque, acontecimento que assinalou a queda da França.
O filme estreia esta semana nas salas de cinema portuguesas, realizado por Joe Wright (Expiação) e a interpretação do primeiro-ministro britânico está a cargo do fantástico Gary Oldman (esse autor quase sempre irreconhecível nos filmes em que entra) com a qual venceu o Globo de Ouro deste ano.
O livro conta ainda com um prefácio de Jorge Sampaio, presidente da República Portuguesa entre 1996 e 2006.
Em cerca de 300 páginas, podemos percorrer o século XX desde a queda da monarquia até à actualidade, pós-Troika. Como escreve o autor: «Foi um século XX bastante longo na medida em que não começou em 1900, nem sequer em 1910 com o derrube da monarquia e a proclamação da República (…) mas sim com a crise provocada pelo Ultimato britânico em Janeiro de 1890.» (p. 21)
Desde a queda da monarquia até à actualidade, o autor apresenta o país numa «síntese em dez fotogramas do Portugal moderno, nascido com a proclamação da República», segundo o prefácio, através do «cruzamento de fontes diversificadas», como a antropologia, a política, a economia, a análise social, a cultura, e, em particular, a literatura.
Yves Léonard ressalva logo na «Introdução» do livro que, apesar dos lugares comuns como as proezas de Cristiano Ronaldo, os êxitos da Selecção Nacional, os nomes sonantes da literatura, mesmo que ainda apenas contemos com um único Nobel, o Portugal contemporâneo continua por descobrir enquanto «verdadeiro objecto de estudos e investigações, autónomo e de uma grande fecundidade, palco de uma história singular, a um nível semelhante ao da “idade de ouro” dos Descobrimentos» (p. 18).
O trabalho é extenso e complexo, mas apresentado de forma acessível, provavelmente tal como foi apresentado nos cursos assegurados pelo autor, e lê-se com prazer este documento histórico como se fosse uma epopeia. Numa dezena de capítulos organizados, naturalmente, por ordem cronológica, passam-se em revista, os momentos cruciais da nossa história no último século: «Quatro regimes políticos diferentes, quatro Constituições, quatro ditaduras», entre elas a mais longa da Europa Ocidental, a do Estado Novo salazarista, dois chefes de estados assassinados, uma «descolonização tardia» e uma «emigração endémica» (p. 21).
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