Depois de ter apresentado A Mulher, cuja adaptação cinematográfica estreou recentemente nas salas de cinema portuguesas, foi agora publicado pela Teorema outro livro da autora o seu mais recente livro. A Persuasão Feminina foi publicado no original ainda este ano.
Greer Kadetsky é uma promissora aluna que namora com o seu vizinho da frente Cory Pinto, filho de imigrantes portugueses, e é aceite na universidade de Yale com uma bolsa de estudo. Contudo, vê a sua entrada vedada pela incapacidade dos seus pais hippies e ganzados em preencherem devidamente um formulário, da mesma forma que nunca se deram ao trabalho de fazer uma refeição para a filha que desde cedo aprendeu a orientar-se sozinha.
Quando termina o curso numa faculdade mediana do Sul do Connectitut, mas onde recebeu também uma bolsa de estudos completa, Greer começa a pensar em encontrar um emprego e enquanto imagina ser escritora, recorda o seu encontro marcante com Faith Frank, oradora convidada no Ryland College em 2006, figura icónica e carismática do feminismo americano, não isenta de polémica, e autora do livro A Persuasão Feminina.
Esta é a história de como Greer dá largas à sua ambição e se vê a trabalhar numa associação humanitária com Faith Frank, uma mulher que apaixona todos em seu redor, enquanto Cory ingressa no mundo da alta finança, mesmo que isso implique ir viver para Manila, nas Filipinas, mas subitamente sofre uma tragédia que o faz repensar as suas prioridades…
Meg Wolitzer é o que se pode considerar uma autora feminista, procurando analisar nos seus romances qual o papel da mulher no mundo actual e denunciar injustiças que ainda persistem, especialmente num momento da História em que a «misoginia tinha apanhado o mundo num ataque total e indisfarçado» (p. 461). Mas Wolitzer atenta também na forma como o próprio homem pode ser um feminista, ainda que não tenha essa consciência, como acontece quando Cory abdica de tudo em prol da família. Este é também um romance sobre a perda da inocência, focando-se sobretudo no que significa tornar-se adulto, o que aliás já acontecera um pouco em Os Interessantes, mas é aqui analisado e ficcionado em maior profundidade. Ver artigo
Depois de Os Interessantes, que virou um filme da Amazon, a Teorema publicou A Mulher, que estreia esta semana nas salas de cinema portuguesas no que promete ser mais uma grande interpretação de Glenn Close. Foi ainda publicado recentemente pela Dom Quixote outro livro da autora, Persuasão Feminina.
A leitura é extremamente aprazível devido ao humor e à ironia da autora, capaz de arrancar um sorriso mordaz enquanto vamos virando as páginas num ápice, completamente envolvidos na história. Joan Castleman está a trinta e cinco mil pés de altitude a acompanhar o marido que se prepara para receber o Prémio de Helsínquia – uma clara alusão ao Nobel – quando decide finalmente divorciar-se do marido. Num jogo de alternância entre esse momento decisivo em que Joe se prepara para receber o prémio que é o culminar da sua carreira de escritor e o passado do que foi a sua vida em comum, desde o momento em que Joan o conheceu nas aulas de escrita criativa, em 1956, a autora tece um retrato de um casal que vive com um segredo – as pistas estão lá desde o início, pelo menos eu sempre senti que havia algo sob a superfície –, em que uma mulher, como tantas outras na História da Humanidade ou, melhor dizendo, da Mulher, se anula em prol do marido, de forma a lhe garantir o conforto e até mesmo o sustento para que ele se possa lançar na sua almejada carreira de escritor:
«Ela nada sabia acerca desta subcultura de mulheres que ficavam, de mulheres que não eram capazes de apresentar uma explicação lógica para as suas lealdades, que se aguentavam porque isso era o mais confortável, a coisa de que realmente gostavam. Ela não compreendia o luxo do familiar, do conhecido (…). O marido. Uma figura rumo à qual nunca avançávamos, nunca nos entusiasmávamos, mas ao lado da qual simplesmente vivíamos, estação após estação, que começava a acumular-se como tijolos grossos, unidos por uma argamassa desleixada. O muro do casamento erguia-se entre nós, uma cama conjugal, na qual nos deitávamos com gratidão.» (pág. 106).
É particularmente interessante a análise que a autora faz da impossibilidade de uma mulher escritora vingar por si mesma no mundo literário, sem ser abafada num mundo dominado por homens – isto durante a segunda metade do século XX – e é igualmente intrigante o retrato que a autora faz dos escritores como figuras tantas vezes mesquinhas, muitas vezes apáticas para com as famílias, como em dois retratos de colegas escritores de Joe em que quase sentimos reconhecer alguns escritores como Roth ou Le Carré. Ver artigo
Depois de ter adorado Os Interessantes chegou a vez de ler esta obra que foi publicada em seguida. O registo é completamente outro e a leitura torna-se extremamente aprazível devido ao humor e à ironia da autora, capaz de arrancar um sorriso mordaz enquanto vamos virando as páginas num ápice, completamente envolvidos na história. Joan Castleman está a trinta e cinco mil pés de altitude a acompanhar o marido que se prepara para receber o Prémio de Helsínquia – uma clara alusão ao Nobel – quando decide finalmente divorciar-se do marido. Num jogo de alternância entre esse momento decisivo em que Joe se prepara para receber o prémio que é o culminar da sua carreira de escritor e o passado do que foi a sua vida em comum, desde o momento em que Joan o conheceu nas aulas de escrita criativa, em 1956, a autora tece um retrato de um casal que vive com um segredo – as pistas estão lá desde o início, pelo menos eu sempre senti que havia algo sob a superfície –, em que uma mulher, como tantas outras na História da Humanidade ou, melhor dizendo, da Mulher, se anula em prol do marido, de forma a lhe garantir o conforto e até mesmo o sustento para que ele se possa lançar na sua almejada carreira de escritor: Ver artigo
Meg Wolitzer nasceu em Nova Iorque, em 1959, onde vive atualmente. Estudou Escrita Criativa no Smith College e é licenciada pela Brown University. É autora de trinta romances, dois deles já adaptados ao cinema, estando mais dois, segundo parece, em fase de pré-produção para a sua adaptação. Destes últimos Os Interessantes é o seu mais recente romance. Ver artigo
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