A Senhora da Magia, de Marion Zimmer Bradley, agora reeditado pela Saída de Emergência, com tradução de Maria Dulce Teles de Menezes, marcou várias gerações de leitores. Este livro constitui o primeiro da saga As Brumas de Avalon. Repartida em quatro volumes, o segundo livro, A Rainha Suprema, já se encontra publicado; e o terceiro, O Rei Veado, está para breve. Ver artigo
Fundação, de Isaac Asimov, é o primeiro livro da trilogia Fundação, relançado pela Saída de Emergência, que em boa hora retomou aquela que foi em tempos eleita a melhor série de ficção científica de todos os tempos, de um dos maiores autores do género. Publicados entre 2019 e 2020, esta trilogia merece ser agora revisitada a propósito da transmissão da série Fundação dentro de semanas, pela Apple Tv, no que aparenta ser uma megaprodução; a par de outras grandes séries que se aproximam e de que falarei a seu tempo. Ver artigo
A Psicologia da Estupidez, organizado por Jean-François Marmion, publicado pela Desassossego (Saída de Emergência) é a antologia perfeita sobre um dos males intemporais da humanidade: a estupidez humana. Com a colaboração de grandes nomes como António Damásio ou Daniel Kahneman, este livro reúne pequenos textos críticos, escritos a convite do organizador, ou trechos de entrevistas a vários eminentes pensadores e psicólogos. A edição portuguesa foi organizada por Luís Corte Real, e na verdade alguns dos melhores textos desta antologia são de autores portugueses, como o de Filipe Luís, sobre a estupidez na política (com algumas das declarações mais infelizes dos nossos representantes), ou o de André Canhoto Costa, sobre a estupidez como obra de arte, designadamente na literatura. Ver artigo
Numa cidade nunca designada, onde existem grandiosas torres e parques exuberantes, mas onde as fachadas dos prédios vivem cada dia como se tivesse o peso de dez anos, onde há um recolher obrigatório, postos de controlo e as janelas são partes da casa a evitar, pois a qualquer momento podem explodir e desfazer-se em múltiplos projécteis mínimos de vidro ou deixar entrar alguma bala, Saeed conhece Nadia e apaixonam-se.
A partir da fórmula “rapaz conhece rapariga”, assistimos ao eclodir da guerra civil, às restrições acrescidas à plena vivência deste amor juvenil, até que a única esperança parece mesmo ser Saeed e Nadia ganharem coragem de modo a deixar para trás o mundo que conhecem e a família que lhes resta para escaparem por uma de entre as várias portas que se diz existir pela cidade, pois ao contrário das janelas, a «fronteira através da qual a morte tinha maiores probabilidades de chegar» (p. 64), as portas podem trazer a salvação.
O romance ganha aí contornos mais próximos do realismo mágico, pois os refugiados aqui não partem dentro de barcos mas sim através de portas «nas quais a maioria das pessoas parecia agora acreditar» que os levam aos recantos mais inesperados nas várias capitais do mundo e que «estavam a ser debatidas pelos líderes mundiais como uma grande crise global» (p. 77).
Um pouco ao jeito de José Saramago, esta breve narrativa, que se lê de um fôlego, estende-se em frases extensas, onde a ironia também tem parte activa, e o fantástico serve para extrapolar a realidade e delinear as possibilidades da história, narrando o terror de viver num país em conflito, o impacto das vagas de migrantes, os campos de contenção construídos nos arredores das cidades, e as revoltas dos nativistas contra os migrantes.
Mohsim Hamid nasceu em Lahore, no Paquistão, e viveu em Londres, Nova Iorque e na Califórnia. Os seus livros são bestsellers, alguns adaptados ao cinema, nomeados para o Man Booker Prize, vencedores ou finalistas de vários prémios e estão traduzidos para 35 línguas. Considerado como um dos melhores livros de 2017 para a Time e o The New York Times, este livro publicado pela Saída de Emergência (curiosamente, a lembrar as portas de escape dos refugiados) cabe no rol dos melhores romances publicados em 2018.
A partir da fórmula “rapaz conhece rapariga”, assistimos ao eclodir da guerra civil, às restrições acrescidas à plena vivência deste amor juvenil, até que a única esperança parece mesmo ser Saeed e Nadia ganharem coragem de modo a deixar para trás o mundo que conhecem e a família que lhes resta para escaparem por uma de entre as várias portas que se diz existir pela cidade, pois ao contrário das janelas, a «fronteira através da qual a morte tinha maiores probabilidades de chegar» (p. 64), as portas podem trazer a salvação.
O romance ganha aí contornos mais próximos do realismo mágico, pois os refugiados aqui não partem dentro de barcos mas sim através de portas «nas quais a maioria das pessoas parecia agora acreditar» que os levam aos recantos mais inesperados nas várias capitais do mundo e que «estavam a ser debatidas pelos líderes mundiais como uma grande crise global» (p. 77).
Um pouco ao jeito de José Saramago, esta breve narrativa, que se lê de um fôlego, estende-se em frases extensas, onde a ironia também tem parte activa, e o fantástico serve para extrapolar a realidade e delinear as possibilidades da história, narrando o terror de viver num país em conflito, o impacto das vagas de migrantes, os campos de contenção construídos nos arredores das cidades, e as revoltas dos nativistas contra os migrantes.
Mohsim Hamid nasceu em Lahore, no Paquistão, e viveu em Londres, Nova Iorque e na Califórnia. Os seus livros são bestsellers, alguns adaptados ao cinema, nomeados para o Man Booker Prize, vencedores ou finalistas de vários prémios e estão traduzidos para 35 línguas. Considerado como um dos melhores livros de 2017 para a Time e o The New York Times, este livro publicado pela Saída de Emergência (curiosamente, a lembrar as portas de escape dos refugiados) cabe no rol dos melhores romances publicados em 2018.
Autora de obras de fantasia e de de ficção científica incontornáveis como o Ciclo Terramar (adaptado inclusive num filme de animação japonesa e também numa mini-série) ou A Mão Esquerda das Trevas, Ursula K. Le Guin faleceu em Janeiro de 2018, aos 88 anos de idade.
Autora de mais de 20 livros, com milhões de exemplares vendidos, traduzida em 40 línguas, Ursula K. Le Guin escreveu ainda ensaios e para cima de uma centena de contos.
Os Despojados, editado pela Saída de Emergência, é um dos seus principais livros, e forma, com A Mão Esquerda das Trevas, parte do Ciclo Hainish.
O livro é, mais do que um romance, uma reflexão sobre os sistemas políticos e sobre a identidade e liberdade individual face a culturas alienígenas, mesmo quando o outro é bastante próximo da espécie humana.
Shevek é um jovem físico brilhante, com uma descoberta que pode revolucionar a forma como se viaja no espaço, pois uma fracção de tempo de uma viagem no espaço continua a ser o equivalente a vários anos de vida que se perdem junto daqueles que se deixam para trás.
Shevek vive em Anarres (por vezes considerado um planeta gémeo, outras vezes um satélite ou Lua do planeta vizinho Urras) é convidado a continuar e a desenvolver o seu trabalho na física em Urras. Urras é um planeta próspero de recursos abundantes, onde vigora justamente um sistema capitalista e mesmo hedonista (note-se que o traje de cerimónia das mulheres é estarem despidas da cintura para cima apenas com algumas jóias incrustadas na pele).
Mas Urras, apesar da sua opulência e do cuidado na estética dos artefactos mais básicos, como o mobiliário, não é um planeta perfeito.
«A conversa prosseguiu. Era difícil para Shevek segui-la, tanto na linguagem como no conteúdo. Estava a ouvir falar de coisas das quais não tinha experiência nenhuma. Nunca vira uma ratazana, nem as casernas do exército, nem um asilo de loucos ou de pobres, nem uma loja de penhores, nem uma execução, nem um ladrão, nem um edifício de apartamentos, nem um cobrador de rendas, nem um homem que quisesse trabalhar e não pudesse arranjar emprego, nem um bebé morto numa vala. (…) Este era Urras (…) o mundo do qual os seus antepassados tinham fugido, preferindo-lhe a fome, o deserto, e o exílio interminável.» (p. 241)
Esta passagem recorda-nos como a ficção científica é sempre, por muito escapista e fantasiosa que se afigure, uma forma de escrever sobre o real ou imaginar mundos possíveis como escape ou alternativa melhor à realidade.
Anarres é um planeta desértico (e a capa da editora é brilhante na forma como retrata de modo simétrico essas duas paisagens em cima e em baixo) para onde alguns habitantes de Anarres partiram em tempos na busca de uma vida mais simples e mais regrada, apesar de terem de enfrentar a fome, o deserto, o exílio. A colónia fundada nesse planeta inóspito foi afinal, saberemos depois, uma experiência de comunismo não autoritário, que sobrevive há 170 anos.
Um dos momentos-chave do livro é o diálogo entre Shevek e uma embaixadora terrana, isto é, da Terra, o que resulta num debate filosófico ou político entre as semelhanças e diferenças entre estes três planetas tão similares.
É também particularmente interessante, e possivelmente está relacionado com o próprio estudo de Shevek na área da física e do tempo, a forma como os capítulos, descobriremos depois, não são sequenciais, apesar de assim parecer. Há uma certa distorção cronológica, em que os capítulos não seguem afinal a devida sequência temporal. Lembra um pouco o filme Arrival na forma como nos apresenta um tempo circular em que o futuro e o passado podem estar contidos no agora.
Em 2014, a autora recebeu a medalha National Book Foundation. Foi também distinguida ao longo da sua carreira de escrita com os Prémios Hugo, Nebula e World Fantasy.
Autora de mais de 20 livros, com milhões de exemplares vendidos, traduzida em 40 línguas, Ursula K. Le Guin escreveu ainda ensaios e para cima de uma centena de contos.
Os Despojados, editado pela Saída de Emergência, é um dos seus principais livros, e forma, com A Mão Esquerda das Trevas, parte do Ciclo Hainish.
O livro é, mais do que um romance, uma reflexão sobre os sistemas políticos e sobre a identidade e liberdade individual face a culturas alienígenas, mesmo quando o outro é bastante próximo da espécie humana.
Shevek é um jovem físico brilhante, com uma descoberta que pode revolucionar a forma como se viaja no espaço, pois uma fracção de tempo de uma viagem no espaço continua a ser o equivalente a vários anos de vida que se perdem junto daqueles que se deixam para trás.
Shevek vive em Anarres (por vezes considerado um planeta gémeo, outras vezes um satélite ou Lua do planeta vizinho Urras) é convidado a continuar e a desenvolver o seu trabalho na física em Urras. Urras é um planeta próspero de recursos abundantes, onde vigora justamente um sistema capitalista e mesmo hedonista (note-se que o traje de cerimónia das mulheres é estarem despidas da cintura para cima apenas com algumas jóias incrustadas na pele).
Mas Urras, apesar da sua opulência e do cuidado na estética dos artefactos mais básicos, como o mobiliário, não é um planeta perfeito.
«A conversa prosseguiu. Era difícil para Shevek segui-la, tanto na linguagem como no conteúdo. Estava a ouvir falar de coisas das quais não tinha experiência nenhuma. Nunca vira uma ratazana, nem as casernas do exército, nem um asilo de loucos ou de pobres, nem uma loja de penhores, nem uma execução, nem um ladrão, nem um edifício de apartamentos, nem um cobrador de rendas, nem um homem que quisesse trabalhar e não pudesse arranjar emprego, nem um bebé morto numa vala. (…) Este era Urras (…) o mundo do qual os seus antepassados tinham fugido, preferindo-lhe a fome, o deserto, e o exílio interminável.» (p. 241)
Esta passagem recorda-nos como a ficção científica é sempre, por muito escapista e fantasiosa que se afigure, uma forma de escrever sobre o real ou imaginar mundos possíveis como escape ou alternativa melhor à realidade.
Anarres é um planeta desértico (e a capa da editora é brilhante na forma como retrata de modo simétrico essas duas paisagens em cima e em baixo) para onde alguns habitantes de Anarres partiram em tempos na busca de uma vida mais simples e mais regrada, apesar de terem de enfrentar a fome, o deserto, o exílio. A colónia fundada nesse planeta inóspito foi afinal, saberemos depois, uma experiência de comunismo não autoritário, que sobrevive há 170 anos.
Um dos momentos-chave do livro é o diálogo entre Shevek e uma embaixadora terrana, isto é, da Terra, o que resulta num debate filosófico ou político entre as semelhanças e diferenças entre estes três planetas tão similares.
É também particularmente interessante, e possivelmente está relacionado com o próprio estudo de Shevek na área da física e do tempo, a forma como os capítulos, descobriremos depois, não são sequenciais, apesar de assim parecer. Há uma certa distorção cronológica, em que os capítulos não seguem afinal a devida sequência temporal. Lembra um pouco o filme Arrival na forma como nos apresenta um tempo circular em que o futuro e o passado podem estar contidos no agora.
Em 2014, a autora recebeu a medalha National Book Foundation. Foi também distinguida ao longo da sua carreira de escrita com os Prémios Hugo, Nebula e World Fantasy.
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