Três Mulheres no Beiral, de Susana Piedade, é o terceiro romance da autora, publicada pela Oficina do Livro. Estreou-se na literatura com o romance As Histórias Que não Se Contam, finalista do Prémio Leya em 2015, a que se seguiu O Lugar das Coisas Perdidas (2020). Este seu novo romance foi também finalista do Prémio Leya em 2021. Ver artigo
O Lugar das Coisas Perdidas, o segundo romance de Susana Piedade, publicado pela Oficina do Livro, segue-se a As Histórias Que não Se Contam, finalista do Prémio Leya 2015.
Numa vila do Norte, onde há não muitos anos caiu uma ponte, dá-se uma catástrofe que faz o lugar estremecer «como um sismo» (p. 82) quando Alice, com 8 anos, desaparece a caminho da escola. E essa vila sem nome (ainda que a possamos associar a Entre-os-Rios), que «parecia inabalável na sua quietude provinciana» (p. 39), é abalada pelo desaparecimento da menina, tragédia cujo impacto toca todos os vizinhos e revolve até segredos de décadas.
«O dia começou por ser igual aos outros nas pequenas coisas.» (p. 19)
Contudo a manhã em que Alice, a filha de Mariana, desaparece, demarca-se também como um dia invulgar na rotina de muitos dos habitantes, conforme certos acontecimentos desenterram segredos há muito reprimidos, e o leitor é subtilmente guiado num labirinto de pistas e indícios que podem apontar o verdadeiro culpado. Ou talvez nenhum dos habitantes daquele lugar esteja completamente inocente…
Escrita límpida, despretensiosa, embora contenha frases lapidares que ficam a ressoar – algumas delas ecoam como um refrão («Algumas pessoas são tempestades»), surgindo nos primeiros capítulos e depois mais próximo do fim. Vislumbra-se uma ironia tímida na narrativa, mas mais vincadamente perto do fim do romance, até porque estas crianças perdidas não se resumem a uma só história: «Tirava o telemóvel da carteira, punha os óculos, partilhava uma fotografia da neta nas redes sociais, vejam que bonita, recebia logo um Gosto, depois uma série deles, estalavam que nem pipocas, enquanto se inclinava para deitar o olho ao balouço onde a miúda se sentara momentos antes.» (p. 233)
Ainda que a revelação final seja tão esperada como irresolvida, a autora interliga magistralmente as pequenas histórias de cada uma das personagens que contornam o drama de Mariana com a tensão narrativa própria de um romance policial, numa leitura vibrante que se quer de um fôlego (eu pelo menos li-o num dia).
Numa vila do Norte, onde há não muitos anos caiu uma ponte, dá-se uma catástrofe que faz o lugar estremecer «como um sismo» (p. 82) quando Alice, com 8 anos, desaparece a caminho da escola. E essa vila sem nome (ainda que a possamos associar a Entre-os-Rios), que «parecia inabalável na sua quietude provinciana» (p. 39), é abalada pelo desaparecimento da menina, tragédia cujo impacto toca todos os vizinhos e revolve até segredos de décadas.
«O dia começou por ser igual aos outros nas pequenas coisas.» (p. 19)
Contudo a manhã em que Alice, a filha de Mariana, desaparece, demarca-se também como um dia invulgar na rotina de muitos dos habitantes, conforme certos acontecimentos desenterram segredos há muito reprimidos, e o leitor é subtilmente guiado num labirinto de pistas e indícios que podem apontar o verdadeiro culpado. Ou talvez nenhum dos habitantes daquele lugar esteja completamente inocente…
Escrita límpida, despretensiosa, embora contenha frases lapidares que ficam a ressoar – algumas delas ecoam como um refrão («Algumas pessoas são tempestades»), surgindo nos primeiros capítulos e depois mais próximo do fim. Vislumbra-se uma ironia tímida na narrativa, mas mais vincadamente perto do fim do romance, até porque estas crianças perdidas não se resumem a uma só história: «Tirava o telemóvel da carteira, punha os óculos, partilhava uma fotografia da neta nas redes sociais, vejam que bonita, recebia logo um Gosto, depois uma série deles, estalavam que nem pipocas, enquanto se inclinava para deitar o olho ao balouço onde a miúda se sentara momentos antes.» (p. 233)
Ainda que a revelação final seja tão esperada como irresolvida, a autora interliga magistralmente as pequenas histórias de cada uma das personagens que contornam o drama de Mariana com a tensão narrativa própria de um romance policial, numa leitura vibrante que se quer de um fôlego (eu pelo menos li-o num dia).
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