Vamos dar conta das novidades em trânsito. Acaba de ser lançada uma nova tradução e edição da obra maior de Aleksandr Soljenítsin, O arquipélago Gulag, traduzida directamente do russo por António Pescada e tratando-se de uma versão abreviada. A Sextante tem aliás publicado as outras obras do autor.
Segundo informa a Sextante, na sua nota de imprensa, este «é um livro de condenação da existência dos campos de trabalho forçado e extermínio da União Soviética», «uma obra emblemática de combate ao totalitarismo de face estalinista, acerca da dura vida nos campos de extermínio e trabalhos forçados soviéticos. Escrito clandestinamente de 1958 a 1967, o manuscrito de O arquipélago Gulag acabou por ser descoberto pelo KGB em 1973. Na sequência disso, Soljenítsin, que entretanto havia sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, decide publicar o livro no estrangeiro. Uma primeira edição em russo é publicada em Paris ainda em 1973, sendo no ano seguinte lançada uma edição em francês. Soljenítsin é entretanto preso, acusado de traição, despojado da nacionalidade soviética e enviado para o exílio, onde estará vinte anos, até ao seu regresso à Rússia, em 1994. Para realizar este extraordinário livro, Soljenítsin foi ajudado pelo testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag, tendo ele próprio estado no de Ekibastuz, no Cazaquistão (campo descrito no romance Um dia na vida de Ivan Deníssovitch – Sextante Editora, 2012). O livro agora publicado pela Sextante é a versão abreviada, num só volume, preparada por Soljenítsin e por sua mulher, Natália – que, de resto, assina o prefácio –, com o objetivo de se tornar mais acessível aos leitores estrangeiros e a novos leitores que, como ele, deverão «condenar publicamente a ideia de que homens possam exercer tal violência sobre outros homens. Calando o mal, fechando-o dentro do nosso corpo para que não saia para o exterior, afinal semeamo-lo».
Sobre o autor «Aleksandr Soljenítsin (1918-2008) combateu na Segunda Guerra Mundial e esteve preso e internado em campos de trabalho forçado de 1945 a 1953, após críticas privadas a Estaline. Ilibado na sequência da «abertura» criada pelo famoso discurso de Krutchev denunciando os crimes estalinistas, foi professor e iniciou o seu percurso de escritor nos anos 50. Um dia na vida de Ivan Deníssovitch, classificado por Aleksandr Tvardovski, seu editor na revista Novy Mir, em 1962, como um «clássico», teve a sua publicação expressamente autorizada por Krutchev e foi estudado nas escolas. Mas a vida de escritor de Soljenítsin viria a ser atribulada e reprimida na sequência da recusa pela União dos Escritores da publicação de Pavilhão de cancerosos e da atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1970. Foi expulso da União Soviética em 1974, vivendo na Suíça, em França e nos Estados Unidos até à queda do Muro de Berlim, após o que regressou a Moscovo, em 1994, sendo recebido triunfalmente. As suas obras marcaram indelevelmente a literatura russa do século XX, inserindo-se na grande tradição narrativa de nomes como Tchekov, Tolstoi e Dostoievski.» Ver artigo
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