Feita a incursão num tema sensível, a singularidade de Jaime face a outros meninos, em O Jaime é uma Sereia, esta segunda obra de Jessica Love publicada pela Fábula retoma a personagem de Jaime e aprofunda a celebração do amor incondicional e da aceitação do outro. O Jaime no Casamento, publicado pela Fábula, mostra-nos como Jaime e Marisol acompanham as respectivas avós a um casamento. Quando a cerimónia termina, as duas crianças escapam sorrateiramente e encontram um recanto mágico, onde rapidamente esquecem que brincar nem sempre é compatível com vestir-se cerimoniosamente. Mas Jaime, dando mais uma vez mostras da sua criatividade resolve rapidamente o problema. Ver artigo
A Alma Perdida, publicado pela Fábula, é um álbum ilustrado com texto de Olga Tokarczuk, vencedora do Prémio Nobel de Literatura em 2019, e ilustrações da premiada artista polaca Joanna Concejo, distinguido com uma Menção Especial do Bologna Ragazzi Award e Livro do Ano pelo IBBY (2013).
«Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm, atrasadas, as suas almas perdidas…»
Pelo tema versado e pelas ilustrações sombrias, não se confunda este belíssimo livro de capa dura, com 48 páginas, com uma obra infantil ou um breve conto. O texto é mais breve do que a história contada pelas imagens, que ganham cor perto do final, conforme o próprio Jan recupera o que perdeu algures pelo caminho ao largo da vida.
«Sem alma, vivia até muito bem — dormia, comia, trabalhava, conduzia o automóvel e até jogava ténis. Às vezes, porém, tinha a impressão de que, em seu redor, tudo era plano; parecia-lhe que se deslocava sobre uma folha lisa de papel de um caderno de matemática, folha essa toda ela coberta de quadrados iguaizinhos.»
É também sobre essas folhas quadriculadas de um caderno de matemática que Joanna Concejo assenta as suas ilustrações, até que a cor irrompe pelas páginas do álbum e se apodera de todo o espaço livre, da mesma forma que do tempo parado nos relógios enterrados por Jan vieram a nascer «belas flores, semelhantes a campânulas de várias cores».
A filosofia (espiritualidade?) de Olga Tokarczuk e a melancolia das imagens interligam-se harmoniosamente, com pistas subtis (será a alma de Jan aquela criança que surge aqui e ali?) que irrompem de recantos esquivos de página para página e reclamam a atenção plena do leitor, a sua própria paragem no tempo para se conseguir maravilhar com uma história.
«Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm, atrasadas, as suas almas perdidas…»
Pelo tema versado e pelas ilustrações sombrias, não se confunda este belíssimo livro de capa dura, com 48 páginas, com uma obra infantil ou um breve conto. O texto é mais breve do que a história contada pelas imagens, que ganham cor perto do final, conforme o próprio Jan recupera o que perdeu algures pelo caminho ao largo da vida.
«Sem alma, vivia até muito bem — dormia, comia, trabalhava, conduzia o automóvel e até jogava ténis. Às vezes, porém, tinha a impressão de que, em seu redor, tudo era plano; parecia-lhe que se deslocava sobre uma folha lisa de papel de um caderno de matemática, folha essa toda ela coberta de quadrados iguaizinhos.»
É também sobre essas folhas quadriculadas de um caderno de matemática que Joanna Concejo assenta as suas ilustrações, até que a cor irrompe pelas páginas do álbum e se apodera de todo o espaço livre, da mesma forma que do tempo parado nos relógios enterrados por Jan vieram a nascer «belas flores, semelhantes a campânulas de várias cores».
A filosofia (espiritualidade?) de Olga Tokarczuk e a melancolia das imagens interligam-se harmoniosamente, com pistas subtis (será a alma de Jan aquela criança que surge aqui e ali?) que irrompem de recantos esquivos de página para página e reclamam a atenção plena do leitor, a sua própria paragem no tempo para se conseguir maravilhar com uma história.
O Jaime é uma Sereia, livro de estreia da norte-americana Jessica Love publicado pela Fábula, é uma incursão em temas delicados, complexos e controversos, se nos ativermos aos pormenores, pelo que optamos por ler esta obra a partir de uma perspectiva mais ampla, como uma fulgurante e colorida celebração da individualidade, da aceitação e do amor incondicional, mais particularmente do amor entre uma avó e o seu neto.
Num momento em que ainda há quem continue isolado e distanciado dos seus entes queridos, procuramos destacar uma de entre várias obras possíveis (como, por exemplo, Nuvens na Cabeça, de Elena Val, publicada pela Akiara, aqui apresentada há semanas) que permitem assinalar o Dia dos Avós, no próximo dia 26 de Julho.
Todos os sábados de manhã, o Jaime vai com a avó à natação. E «o Jaime ADORA sereias».
Um dia, quando vê três mulheres vestidas de sereias no metro, tudo muda. O Jaime fica fascinado e, quando chega a casa, só consegue pensar numa coisa: «- Avó, eu também sou uma sereia.»
E, como se sabe, ou como alguns de nós poderão ainda lembrar-se, do querer de criança ao ser vai um pequeno passo dado pela sua gigante imaginação que, conforme crescemos, vai definhando.
O livro é composto por cerca de 20 frases e 40 páginas. É de destacar o trabalho genial da autora, na forma como conta a história sem narrar, julgar ou descrever, limitando-se às falas das personagens, como se o livro fosse uma curta metragem de animação. É particularmente intrigante a forma como no próprio livro, apenas pelas imagens, se cria um momento de suspense quando a avó vê a transfiguração de Jaime, sem sabermos o que ela irá dizer, como irá reagir, pois as ilustrações desta obra contam a sua própria história, como um verdadeiro arco-íris de iridescente imaginação e celebração da vida e da felicidade de podermos ser amados por quem somos. Pois alguns de nós, tal como as sereias, somos seres híbridos ou pertencemos a dois mundos diferentes.
Esta obra venceu o prémio Opera Prima da Feira do Livro Infantil de Bolonha (BolognaRagazzi) em 2019.
Jessica Love cresceu no sul da Califórnia. Estudou Gravura e Ilustração na Universidade da Califórnia. Mais tarde, estudou Teatro na Juilliard School, em Nova Iorque. Vive e trabalha em Brooklyn.
Num momento em que ainda há quem continue isolado e distanciado dos seus entes queridos, procuramos destacar uma de entre várias obras possíveis (como, por exemplo, Nuvens na Cabeça, de Elena Val, publicada pela Akiara, aqui apresentada há semanas) que permitem assinalar o Dia dos Avós, no próximo dia 26 de Julho.
Todos os sábados de manhã, o Jaime vai com a avó à natação. E «o Jaime ADORA sereias».
Um dia, quando vê três mulheres vestidas de sereias no metro, tudo muda. O Jaime fica fascinado e, quando chega a casa, só consegue pensar numa coisa: «- Avó, eu também sou uma sereia.»
E, como se sabe, ou como alguns de nós poderão ainda lembrar-se, do querer de criança ao ser vai um pequeno passo dado pela sua gigante imaginação que, conforme crescemos, vai definhando.
O livro é composto por cerca de 20 frases e 40 páginas. É de destacar o trabalho genial da autora, na forma como conta a história sem narrar, julgar ou descrever, limitando-se às falas das personagens, como se o livro fosse uma curta metragem de animação. É particularmente intrigante a forma como no próprio livro, apenas pelas imagens, se cria um momento de suspense quando a avó vê a transfiguração de Jaime, sem sabermos o que ela irá dizer, como irá reagir, pois as ilustrações desta obra contam a sua própria história, como um verdadeiro arco-íris de iridescente imaginação e celebração da vida e da felicidade de podermos ser amados por quem somos. Pois alguns de nós, tal como as sereias, somos seres híbridos ou pertencemos a dois mundos diferentes.
Esta obra venceu o prémio Opera Prima da Feira do Livro Infantil de Bolonha (BolognaRagazzi) em 2019.
Jessica Love cresceu no sul da Califórnia. Estudou Gravura e Ilustração na Universidade da Califórnia. Mais tarde, estudou Teatro na Juilliard School, em Nova Iorque. Vive e trabalha em Brooklyn.
A 20 de junho celebra-se o Dia Mundial do Refugiado, pelo que esta Leitura da Semana decidiu assinalar esta data (e temática) com a obra de literatura infantil intitulada A Viagem, da autoria de Francesca Sanna, publicada pela Fábula (Grupo 20|20), porque a literatura para crianças também pode ser séria e ajudar a colocar questões sobre o mundo em que vivemos, onde vagas de migrantes continuam a chegar às nossas costas. «Como será deixar tudo para trás e percorrer quilómetros e quilómetros rumo a um destino longínquo e estranho?»
Tal como os pássaros, as pessoas também migram para novos países, e assim foi desde o princípio dos tempos, até se começarem a estabelecer em povoações conforme se desenvolveu a agricultura. Migram em busca de uma nova casa, para fugir à guerra, a perseguições, a condições de vida desumanas cujos direitos humanos são violados todos os dias. Mas ao contrário dos pássaros, que não têm de atravessar muros ou fronteiras, os migrantes empreendem longas viagens em que quanto mais distância se percorre mais se vai deixando pelo caminho. E tal como ainda hoje acontece, esta história não tem fim, pois como o fecho do livro indica «Espero que, um dia, como estes pássaros, também nós encontremos uma nova casa. (…) onde possamos recomeçar a nossa história.»
O livro é belissimamente ilustrado, sendo que nesta narrativa existe perfeito diálogo entre texto e ilustração. Contudo, muitas vezes, as imagens do livro também contam a sua própria história, paralelamente ao texto, sem recurso a palavras; como acontece com o mar pintado de preto que cresce até tomar as proporções de um monstro, pois é assim que os perigos enfrentados surgem representados, como gigantes sempre prestes a apanhar a mãe e os filhos. Mas a escuridão também pode ser benigna e ajudar os nossos fugitivos a encontrar um novo lar, como se verá…
É um livro altamente recomendável para pais e educadores, a que não falta um Guião de Exploração da obra criado pela Amnistia Internacional do Reino Unido; multipremiado, com excelentes críticas internacionais, e cuja edição tem o apoio do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e da Amnistia Internacional (AI). Podíamos até apontar A Viagem, de Francesca Sanna, como uma belíssima obra de ficção, não fosse o facto de continuar a haver milhares de refugiados a procurar refúgio em países como Portugal, cuja cooperação internacional está fortemente empenhada na protecção, assistência, acolhimento e integração de refugiados e migrantes. Aliás, a autora deste livro inspirou-se na história de duas jovens refugiadas que conheceu em Itália e entrevistou inúmeras famílias de refugiados na Europa.
Tal como os pássaros, as pessoas também migram para novos países, e assim foi desde o princípio dos tempos, até se começarem a estabelecer em povoações conforme se desenvolveu a agricultura. Migram em busca de uma nova casa, para fugir à guerra, a perseguições, a condições de vida desumanas cujos direitos humanos são violados todos os dias. Mas ao contrário dos pássaros, que não têm de atravessar muros ou fronteiras, os migrantes empreendem longas viagens em que quanto mais distância se percorre mais se vai deixando pelo caminho. E tal como ainda hoje acontece, esta história não tem fim, pois como o fecho do livro indica «Espero que, um dia, como estes pássaros, também nós encontremos uma nova casa. (…) onde possamos recomeçar a nossa história.»
O livro é belissimamente ilustrado, sendo que nesta narrativa existe perfeito diálogo entre texto e ilustração. Contudo, muitas vezes, as imagens do livro também contam a sua própria história, paralelamente ao texto, sem recurso a palavras; como acontece com o mar pintado de preto que cresce até tomar as proporções de um monstro, pois é assim que os perigos enfrentados surgem representados, como gigantes sempre prestes a apanhar a mãe e os filhos. Mas a escuridão também pode ser benigna e ajudar os nossos fugitivos a encontrar um novo lar, como se verá…
É um livro altamente recomendável para pais e educadores, a que não falta um Guião de Exploração da obra criado pela Amnistia Internacional do Reino Unido; multipremiado, com excelentes críticas internacionais, e cuja edição tem o apoio do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e da Amnistia Internacional (AI). Podíamos até apontar A Viagem, de Francesca Sanna, como uma belíssima obra de ficção, não fosse o facto de continuar a haver milhares de refugiados a procurar refúgio em países como Portugal, cuja cooperação internacional está fortemente empenhada na protecção, assistência, acolhimento e integração de refugiados e migrantes. Aliás, a autora deste livro inspirou-se na história de duas jovens refugiadas que conheceu em Itália e entrevistou inúmeras famílias de refugiados na Europa.
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