Não é a primeira vez que sou desafiado para isto, mas tenho resistido. Contudo, aqui vai a minha resposta ao desafio, a quem interessar, mas feita à minha maneira.
Pensei primeiro em referir Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, pelo que só aí arrecadava logo a posição 1 a 7 dos 10 dias, mas vou fazer jogo limpo e indicar um título por cada dia, por ordem de importância e uma breve explicação do porquê desse título.
1- A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende. É um livro a que voltei várias vezes. Foi-me proposto por uma colega do básico, com quem caminhava todos os dias para a escola, e falávamos de tudo, especialmente dos livros que os pais dela liam e que ela também começou a ler. Inevitavelmente os pais dela acabaram por mos emprestar e seja por terem sido os meus primeiros romances adultos lidos na juventude, ou seja por mera coincidência, foram as leituras que mais me marcaram até hoje. Ao ponto de terem determinado o meu futuro académico. Já explico… Lembro-me ainda hoje da bibliotecária, que depois passou a ser uma boa amiga, que me recusou levar o livro da biblioteca, por não ser indicado para a minha idade. Mal sabia ela que eu ia passar a visitá-la todas as semanas e a requisitar aos 3 livros de cada vez. A Casa dos Espíritos marcou-me tanto que quando o li pela primeira vez, aos 15 anos, comecei a escrever eu próprio uma tentativa de romance familiar. E a minha sobrinha hoje chama-se Clara. Falta saber se será clarividente.
2- Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Se a mãe da Tatiana lia Isabel Allende, o pai era fã de Gabo e convenceu-me a não perder tempo com “livros de senhoras”. Este romance marcou-me indelevelmente e de tal forma que a minha tese de mestrado e depois de doutoramento foi sobre o realismo mágico na literatura portuguesa – está publicada em livro e também disponível online. Inclusivamente fiz um estudo comparativo, que depois teve de ser profundamente reformulado e acho que o perdi, entre Cem Anos de Solidão e O meu mundo não é deste reino, de João de Melo, e entre A Casa dos Espíritos e O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Segundo os próprios autores as afinidades entre as obras eram muitas mais do que eles próprios se aperceberam.
3- O meu mundo não é deste reino, de João de Melo. Pelas razões que já apontei. E por ser um romance belíssimo, de uma escrita apaixonante. Ainda hoje sigo a obra deste escritor e tomei os Açores como meus, apesar de ter costela madeirense.
4- O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge. Acho que já disse tanto sobre esta escritora, que tem sido uma espécie de fada-madrinha para mim que já nem sei que mais possa escrever. Apaixonei-me por Branca, a Senhora do Dragão, a mulher capaz de ver no interior das pessoas e de prever o futuro.
5- Os Filhos da Meia-Noite, de Salman Rushdie. Outra obra basilar do realismo mágico, lida sem ser por isso, e que aos 16 anos foi lida de rajada, quando eu não iria perceber metade. Mas as gargalhadas que dei com o livro. Penicos voadores, tapetes mágicos, uma criança com orelhas de elefante que sintoniza na sua mente os pensamentos de todos os outros filhos da Índia. Não vejo a hora de reler este romance. Salman Rushdie é hoje um dos meus autores favoritos.
6- As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Li tudo da autora, desde que descobri As Brumas. Apaixonei-me pela Morgana. Pelas lendas arturianas que nunca mais ninguém recontou como a Marion. Ou a guerra de Tróia, recontada em Presságio de Fogo. A sua escrita marcou muito os meus próprios rascunhos.
7- Lillias Fraser, de Hélia Correia. Li o livro muito antes de saber que um dia o trabalharia na minha tese de doutoramento ou de saber que um dia seria recebido pela escritora na sua casa em Sintra. Um romance onde o mágico permite rever a história. Uma menina que vê a morte nas pessoas e se destaca pelo seu brilho dourado e o seu mutismo animal que um dia chega a Lisboa e passa pelo Terramoto de 1755. Tenho um fraco por mulheres fortes, por isso apaixonei-me, tal como a autora, pela Lillias.
8- Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Porquê? Não é por eu ser pretensiosamente pseudo. Foi um romance que me arrebatou, mesmo com as suas frases que se alongam por páginas, como uma sinfonia em crescendo que interliga tudo no último volume. O meu professor de teoria da literatura tanto falou deste livro que eu sabia que o teria de ler. Simplesmente não segui o seu conselho (ainda!) de depois de ler o primero volume passar directamente para o último e depois reler tudo de início…
9- A Montanha Mágica, de Thomas Mann. A outra obra querida ao meu professor de Teoria. Quando finalmente o li pronto, rendi-me, e nada mais tenho a dizer sobre esta obra essencial à humanidade.
10- Regresso a Reims, de Didier Eribon. Hesitei um pouco porque quem lê mais de 52 livros por ano não consegue fazer jus a tudo. Pensei no Guerra e Paz, mas achei que ninguém me ia acreditar. Por isso deixo aqui o Regresso a Reims, de Didier Eribon. Não porque foi o livro que li ontem, mas porque mexeu tanto comigo que me fez desvelar um pouco de mim próprio este fim-de-semana. E porque é um livro em que me revejo muito. Podem ler no blogue porquê. Ver artigo
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