Olga conta a história de uma menina a partir do seu primeiro ano de idade, que se limita a absorver o interior da casa da vizinha que cuida de si em todos os seus pormenores, até que tendo visto o que havia para ver passa a subir para uma cadeira e a contemplar o mundo pela janela. Silenciosa e solitária, a menina filha de um estivador e de uma lavadeira aprenderá a ler a escrever com a vizinha ainda antes de ir para a escola e cedo se evidencia o seu gosto pela leitura. Quando uns anos mais tarde os pais morrem com tifo, com dez dias de intervalo, Olga será levada pela avó que a desaprova, da mesma forma que foi contra o casamento do filho com uma mulher eslava e que deu o seu nome próprio, igualmente eslavo, à filha. Mas cedo Olga evidencia a sua fibra ao rejeitar que a avó lhe troque o nome. Criada sem amor pela avó numa aldeia a leste do império alemão, num período incerto que se pressente como a viragem do século XIX, em que a própria Alemanha ainda tem as suas fronteiras por definir, Olga continua a evidenciar-se na escola, e mantém a sua curiosidade e admiração pelo mundo, isolando-se na orla da floresta a ler. Além dos livros, tem por companhia Herbert, filho do homem mais rico da aldeia, uma criança que assim que deu os primeiros passos começou a correr, não sabendo mover-se pelo mundo de outra forma, com a ânsia de descobrir com os seus próprios passos aquilo que Olga explora pela leitura. Mas com o tempo as diferenças entre Herbert, a irmã Viktoria e Olga tornam-se mais declaradas, nomeadamente entre a ambição social de Viktoria e o sonho de Olga em continuar os seus estudos, porém impossibilitada pela sua condição de frequentar o magistério público. Até que as suas vidas tomam caminhos distintos. Se no início este romance parece ter algo de conto encantado, como condiz à narração da infância e juventude, o leitor dá depois por si a atravessar o século XX à medida que Olga prossegue com os seus sonhos, vislumbrando alternativas sem se deixar render às poucas oportunidades que a vida lhe dá como mulher e pobre, e Herbert continua a correr mundo, da Namíbia ao Pólo Norte, partilhando da febre expansionista alemã das primeiras grandes explorações pela vastidão de lugares inóspitos e longínquos, numa Alemanha em constante mudança, conforme o império dá lugar à República de Weimar e depois à ascensão dos sociais-democratas, até que deflagra a guerra, e a vida de Olga continua a encaminhar-se por desvios tortuosos.
Em tom nostálgico e límpido, a prosa de Bernhard Schlink mantém-se apaixonante, neste romance publicado pelas Edições ASA, numa magnífica viagem pela Alemanha do século XX que se entrelaça magistralmente com a história desta mãe-coragem que é Olga.
Bernhard Schlink nasceu em 1944 em Bielefeld. Jurista de formação, juiz, professor de Direito Público e de Filosofia do Direito numa universidade em Berlim, é mais conhecido, entre nós, como autor de O Leitor, adaptado ao cinema e que conferiu a Kate Winslet o Óscar de melhor actriz. Ver artigo
Pesquisar:
Subscrição
Artigos recentes
Categorias
- Álbum fotográfico
- Álbum ilustrado
- Banda Desenhada
- Biografia
- Ciência
- Cinema
- Contos
- Crítica
- Desenvolvimento Pessoal
- Ensaio
- Espiritualidade
- Fantasia
- História
- Leitura
- Literatura de Viagens
- Literatura Estrangeira
- Literatura Infantil
- Literatura Juvenil
- Literatura Lusófona
- Literatura Portuguesa
- Música
- Não ficção
- Nobel
- Policial
- Pulitzer
- Queer
- Revista
- Romance histórico
- Sem categoria
- Séries
- Thriller
Arquivo
- Novembro 2024
- Outubro 2024
- Setembro 2024
- Agosto 2024
- Julho 2024
- Junho 2024
- Maio 2024
- Abril 2024
- Março 2024
- Fevereiro 2024
- Janeiro 2024
- Dezembro 2023
- Novembro 2023
- Outubro 2023
- Setembro 2023
- Agosto 2023
- Julho 2023
- Junho 2023
- Maio 2023
- Abril 2023
- Março 2023
- Fevereiro 2023
- Janeiro 2023
- Dezembro 2022
- Novembro 2022
- Outubro 2022
- Setembro 2022
- Agosto 2022
- Julho 2022
- Junho 2022
- Maio 2022
- Abril 2022
- Março 2022
- Fevereiro 2022
- Janeiro 2022
- Dezembro 2021
- Novembro 2021
- Outubro 2021
- Setembro 2021
- Agosto 2021
- Julho 2021
- Junho 2021
- Maio 2021
- Abril 2021
- Março 2021
- Fevereiro 2021
- Janeiro 2021
- Dezembro 2020
- Novembro 2020
- Outubro 2020
- Setembro 2020
- Agosto 2020
- Julho 2020
- Junho 2020
- Maio 2020
- Abril 2020
- Março 2020
- Fevereiro 2020
- Janeiro 2020
- Dezembro 2019
- Novembro 2019
- Outubro 2019
- Setembro 2019
- Agosto 2019
- Julho 2019
- Junho 2019
- Maio 2019
- Abril 2019
- Março 2019
- Fevereiro 2019
- Janeiro 2019
- Dezembro 2018
- Novembro 2018
- Outubro 2018
- Setembro 2018
- Agosto 2018
- Julho 2018
- Junho 2018
- Maio 2018
- Abril 2018
- Março 2018
- Fevereiro 2018
- Janeiro 2018
- Dezembro 2017
- Novembro 2017
- Outubro 2017
- Setembro 2017
- Agosto 2017
- Julho 2017
- Junho 2017
- Maio 2017
- Abril 2017
- Março 2017
- Fevereiro 2017
- Janeiro 2017
- Dezembro 2016
- Novembro 2016
- Outubro 2016
Etiquetas
Akiara
Alfaguara
Annie Ernaux
Antígona
ASA
Bertrand
Bertrand Editora
Booker Prize
Caminho
casa das Letras
Cavalo de Ferro
Companhia das Letras
Dom Quixote
Editorial Presença
Edições Tinta-da-china
Elena Ferrante
Elsinore
Fábula
Gradiva
Hélia Correia
Isabel Allende
Juliet Marillier
Leya
Lilliput
Livros do Brasil
Lídia Jorge
Margaret Atwood
Minotauro
New York Times
Nobel da Literatura
Nuvem de Letras
Pergaminho
Planeta
Porto Editora
Prémio Renaudot
Quetzal
Relógio d'Água
Relógio d’Água
Série
Temas e Debates
Teorema
The New York Times
Trilogia
Tânia Ganho
Um Lugar ao Sol