Jonah Lehrer, editor da revista científica Seed, tirou uma dupla licenciatura em Neurociência e Inglês na Universidade de Columbia, foi bolseiro em Oxford, trabalhou no laboratório de Eric Kandel, Prémio Nobel de Medicina em 2000, na cozinha de dois dos mais conceituados restaurantes do mundo e colabora com várias revistas científicas. Publicou este livro com apenas 25 anos. Um misto de biografia, ensaio e escrita científica, em que o autor procura demonstrar como a arte antecipou a ciência, através da obra de 8 artistas. Começando por Walt Whitman, que não dissociava o corpo da alma, e terminando em Virginia Woolf, que instaura uma nova forma de romance ditada pelo livre curso da nossa própria consciência, o autor faz uma síntese da vida e obra destes artistas ao mesmo tempo que demonstra como a sua arte antecipou, por vezes, em quase um século, algumas das mais importantes descobertas da neurociência. Destaco, como não podia deixar de ser e fazendo juz ao título do livro, a obra de Marcel Proust (uma das mais importantes da literatura mundial e uma das minhas favoritas) que publicada em 1913 iria dissecar a forma como recordamos, pois a famosa madalena, feita de açúcar, farinha e manteiga, espoleta no narrador a rememoração de todo o seu passado ao longo de 7 volumes. E sabe-se hoje que Proust estava certo, pois está provado que o paladar e o olfacto são os únicos sentidos que se ligam directamente ao hipocampo, o centro da memória de longo prazo do cérebro. Como se sabe também que o acto de recordar altera a própria memória, como Proust faz com o sinal de Albertine, a sua “amada”, que ora surge no queixo, ora no lábio, ora na maçã do rosto… Nesse mesmo ano, também na cidade de Paris, estreia A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, cuja irreverência é vaiada e origina um motim, com direito a intervenção policial…
Jonah Lehrer apresenta-nos ainda como o chef francês Escoffier descobriu o quinto sabor, como Gertrude Stein descodificou a estrutura profunda da linguagem cinquenta anos antes de Chomsky, a forma como vemos com Paul Cézanne, e a biologia da liberdade com George Eliot. O autor demonstra como somos feito de matéria mas também de sonho e como a arte supera a ciência.
Esta obra foi publicada em 2009 pela editora Lua de Papel e encontra-se actualmente esgotada. Mas claro que nos podemos sempre valer das bibliotecas municipais. Ver artigo
Há uma forte convicção de que este livro é uma sequela de Cidade Aberta, não apenas por ter sido lido ou publicado depois, mas porque este narrador, sem nome, regressa à sua cidade natal de Lagos e pode ser perfeitamente identificado com Julius, o jovem médico que calcorreava a cidade de Nova Iorque como forma de reflexão e de desopressão do trabalho, ou, mais ainda, com o próprio autor, se não fosse pelo facto de Teju Cole ser filho de pais nigerianos mas ter nascido nos Estados Unidos. Tendo saído da Nigéria assim que conseguiu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, o narrador começa a sua narrativa nas vésperas da sua viagem, quando se dirige ao consulado para obter o visto. Já aí se prenuncia o que se seguirá ao longo do seu regresso a Lagos, mesmo sob os cartazes em que se solicita: «Ajude-nos a combater a corrupção.»
Lagos é uma metrópole, nem sempre reconhecível para o narrador que reencontra familiares, amigos e locais da sua infância e juventude, onde o grande «lubrificante social» é o dinheiro que ajuda a mover as rodas da engrenagem burocrática ao mesmo tempo que mantém as hierarquias sociais no seu devido lugar (p. 26): todo o serviço tem o seu preço e requer a devida gratificação. Lagos é uma cidade de contrastes. Ao ver peças de arte nigeriana em museus em cidades como Londres, Paris e Berlim, o narrador ansiou por um regresso às suas origens, mas quando chega ao Museu Nacional a desolação é total, pois o seu conteúdo é parco e pouco representativo. Um professor local é pago com valores inferiores ao de um professor estrangeiro/branco. Não há monumento que assinale como o comércio de escravos era na ordem das dezenas de milhares e entre 1835 e 1840 atingiu o número de 135 000. A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo do mundo mas metade da cidade de Lagos, confrontada diariamente com cortes de energia, funciona com geradores e as áreas de serviço ou estão encerradas ou não têm combustível.
Um retrato cru e realista no que é uma das melhores representações ficcionais de África na actualidade. Ver artigo
Joanne Harris é uma escritora que passa sempre à frente das dezenas de livros que ameaçam fazer a minha cabeceira soçobrar… Este livro, publicado 20 anos depois de Chocolate, o primeiro livro que li da autora, mais ou menos quando saiu o filme, é um regresso ao universo mágico da pequena vila de Lansquenet-sous-Tannes, o que perfaz uma série de 4 romances – com Sapatos de Rebuçado e O Aroma das Especiarias. Todos os livros da autora – da série Chocolate e outros, inclusive infanto-juvenis – integram o catálogo das Edições ASA.
Vianne Rocher – e acho que é difícil dissociar a personagem de Juliette Binoche, actriz que a interpretou, como sempre acontece quando se vê uma adaptação de um livro ao cinema – continua a viver em Lansquenet-sous-Tannes onde mantém a sua chocolataria. Em tempos repudiada, é agora uma mulher respeitada e que, de forma subtil e imperceptível, continua a ajudar os habitantes da vila, através do cheiro enfeitiçante do chocolate quente que tem o condão de os fazer desoprimir-se do fardo que carregam, de segredos e de pecados erroneamente assumidos. Mas esta bruxa boa também carrega um segredo (…) Ver artigo
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