Notas Sobre o Luto, de Chimamanda Ngozi Adichie, publicado pela Dom Quixote com tradução de Tânia Ganho, leva-nos ao fatídico ano de 2020, com o deflagrar da pandemia. Naquele que é o livro mais pessoal e intimista da autora, Chimamanda Ngozi Adichie faz-nos regressar aos rituais vividos durante o confinamento, como as reuniões familiares por videochamada, até que o seu próprio mundo soçobra. O académico James Nwoye Adichie, nascido em 1932, morre subitamente no dia 10 de junho de 2020, na Nigéria. A filha tinha-o visto ao vivo, pela última vez, a 5 de Março, «pouco tempo antes de o coronavírus ter mudado o mundo» (p. 97).
«A notícia é como um desenraizamento brutal. Sou arrancada à força do mundo que conheci desde a infância.» (p. 9)
Numa reflexão profunda e pertinente de uma época que nos marcou a todos um pouco por todo o mundo, em que à dor da perda se juntou o terrível limbo de as pessoas não saberem quando seria possível enterrar os mortos, ou terem de o fazer sem estar fisicamente presentes, para poder enterrar uma parte da sua própria dor, Chimamanda tece os fios da história da vida do pai até aos seus últimos dias, falando-nos, por exemplo, de como o namoro dos pais, em 1960, foi iniciado sem nenhum dos dois estar presente; apresentando-nos um pouco da cultura ibo; e reportando-se aos seus antepassados, como o pai do seu pai, vendido como escravo pelos próprios familiares a membros de outra etnia.
«O luto é uma forma cruel de aprendizagem. Aprendemos que a dor de perder alguém pode ser muito dura, cheia de raiva. Aprendemos que as condolências podem afigurar-se-nos completamente ocas. Aprendemos que uma grande parte do luto se prende com a linguagem, com o fracasso da linguagem e a busca de linguagem.» (p. 11)
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