O Infinito Num Junco, de Irene Vallejo, publicado pela Bertrand Editora em Outubro do ano passado, foi o livro mais vendido em Espanha durante o confinamento, aclamado pela crítica espanhola e internacional, e rapidamente fez furor em Portugal.

O Infinito Num Junco é um ensaio maravilhosamente escrito em tom narrativo, num jeito intimista e poético, sobre a fascinante invenção do livro e a sua história. Dividido em duas partes, a que corresponde a história do livro, da leitura, da palavra, na Grécia e na Roma Antigas, Irene Vallejo conduz-nos numa viagem fascinante (para que contribui em muito o fascínio e paixão da própria autora pela literatura), em que o tempo se dissolve: são constantes as circunvoluções espiralares em que da Grécia Antiga passamos aos E.U.A., e ao falar de Platão de repente iremos ler sobre Mark Twain. Nesta aparente anarquia de um ensaio que impõe o seu próprio ritmo, confluem as memórias pessoais da autora (nomeadamente a forma como a literatura lhe serviu de escapa e permitiu reinventar-se, quando era gozada em criança), os seus livros e filmes estimados, uma profusão de referências e citações bibliográficas (que nos conduzem a leituras futuras), e confluem ainda as vozes de imensas personagens – contadores de histórias, escribas, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, mercadores, escravos – que, ao longo da História, contribuíram para a longa e complexa gestação do livro, para a sua defesa e proliferação, mas também para a sua perseguição e destruição. O leitor viaja pela Biblioteca de Alexandria, segue em campanha com Alexandre Magno na sua conquista do Oriente, com a Ilíada debaixo do travesseiro, assiste às tragédias e às comédias perdidas dos palcos atenienses, e teme pela pilhagem e queima de livrarias durante o regime franquista ou na Noite dos Cristais em Berlim.

Ao longo de mais de 30 séculos, desde a pedra e a argila, do papiro à pele, agora com novos dispositivos feitos de plástico e luz (sempre em formato rectangular), o livro é um objecto-artefacto que tem sobrevivido ao tempo e certamente continuará a sobreviver, enquanto as mais recentes invenções que o visam substituir se tornam obsoletas. 

Irene Vallejo (Saragoça, 1979) estudou Filologia Clássica, doutorando-se nas universidades de Saragoça e Florença. É escritora, colunista do El País e do Heraldo de Aragón, palestrante e promotora da educação e do conhecimento sobre o mundo clássico. A autora está em Portugal e fará uma apresentação ao público na livraria Bertrand do Chiado, às 18:30 de hoje, segunda-feira, dia 15 de novembro. Amanhã, 16 de novembro, às 20:00, a autora participa no Concerto Centenário José Saramago, no Teatro São Luiz. Na sua passagem por Lisboa, Irene Vallejo estará ainda presente noutro evento público (sujeito a inscrição prévia), dia 17 de novembro, quarta-feira, às 18h, no Salão Nobre da Universidade Aberta, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian e a Bertrand Editora. O evento «A globalização do livro e da leitura: Progressos do passado e desafios do presente», conta com a presença da autora dos livros O Infinito num Junco e Manifesto pela Leitura, e com o comentário crítico de Guilherme d’Oliveira Martins, Administrador Executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.