Paolo Cognetti, nascido em Milão em 1978, é uma das mais recentes descobertas da Dom Quixote. Um dos escritores italianos mais aclamados pela crítica e apreciado pelos leitores, escreveu As Oito Montanhas (2016). Escrito com «o fólego de um clássico», esse livro tem ecos de outros grandes que subiram a montanhas para se tornarem maiores do que a vida, e talvez por isso esteja também dividido em três partes mais ou menos correspondentes às três fases de vida de um homem. Em O rapaz selvagem, o segundo romance do autor, deixa-nos um relato na montanha entre o autobiográfico e o romanceado. Paolo, que nunca se designa, embora narre na primeira pessoa, tem trinta anos e sente-se sem rumo ou esperança quando decide partir para a montanha, inclusive na esperança de voltar a escrever.
Sem nunca chegar ao cimo, de Paolo Cognetti, com o subtítulo Viagem aos Himalaias, é um diário da viagem do autor, no final de 2017, a um planalto no Nepal de onde se propõe subir aos cinco mil metros de altitude, até a um remoto Tibete que permaneceu a salvo do tempo. O autor refere, aliás, que no Nepal «a sensação de estarmos a perder tempo transforma-se na necessidade de nos habituarmos a um ritmo diferente da passagem do tempo.» (p. 19)
Mais à frente, o autor volta aos conceitos de «ganhar e perder», cuja valoração pressupõe uma perspectiva ocidental, que não se coaduna com o modo de vida não só do Nepal ou do Tibete mas de toda a montanha a que o homem, alpinista ou montanhista, se propõe desafiar, onde o que aí importa verdadeiramente é que «altitude e distância são capitais que acumulamos com o nosso esforço, sendo que não nos agrada nada desperdiçar esse investimento» (p. 125).
A viagem durou cerca de um mês e prosseguiu ao longo da fronteira tibetana, mas nós podemos ler o seu registo num único dia. Para Paolo esta viagem é ainda um desafio ao seu insuperável medo das alturas… Assim como uma despedida do que ainda considera ser a sua juventude, agora atingidos os 40 anos de vida, ao partir nesta demanda com mais 2 amigos de longa data: «Eu sabia que na montanha, mesmo quando caminhamos acompanhados, caminhamos sempre sozinhos, mas estava feliz por partilhar a minha solidão com estes companheiros.» (p. 17)
Uma vez mais, este livro de Paolo Cognetti fala-nos do «maldito apelo da montanha», desse chamamento mágico que contraria até o seu próprio instinto de sobrevivência: «Mas que faço eu aqui? Porque é que estou aqui a tremer a cinco mil metros de altitude, nada mais em redor senão gelo e escuridão, com o estômago a contorcer-se?» (p. 114)

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.