Não, hoje não li o Harry Potter pela vigésima vez mas assinalam-se 20 anos que nasceu (para o mundo) esse rapaz com a cicatriz de um raio na testa e destinado a acabar com o mal personificado na figura de Voldemort ou Salazar para os amigos (inspirado justamente no nome do nosso ditador). Considerando que há crianças que não gostam de ler, embora sejam viciadas em jogos de computador, lembro-me bem de como depois de muito insistir o meu irmão lá pegou no primeiro livro da saga e a verdade é que desde então não parou. Leu todos os 7 livros 3 vezes. E depois nunca mais leu outro livro. Eu tinha cerca de 20 anos, estava já na universidade, a braços com leituras bem mais pesadas e obrigatórias quando um amigo (Vasco) me passou para a mão Harry Potter e a Pedra Filosofal, naquele formato mais pequeno e com capa infantil da fabulosa colecção Via Láctea da Editorial Presença (que também inclui o Ciclo Terramar de Ursula K. Le Guin ou As crónicas de Nárnia. E também Engenhos Mortíferos, agora a ser adaptado ao grande ecrã pelo Peter Jackson de O Senhor dos Anéis). Sempre com uma certa suspeição comecei a ler e a partir do momento em que fico a conhecer o rapaz que dorme por baixo de um vão de escadas e descobre depois que é um feiticeiro fui para sempre absorvido para dentro daquele mundo encantado. Sobre a escrita ou técnica da autora devo dizer que gostei sobretudo da forma como se iam deixando pontas soltas aqui e ali para depois serem retomadas, e como muitas vezes conseguia uma interessante reviravolta no final dos livros, além da forma como bebe da mitologia. Faz-me sempre confusão aquela viagem ao passado em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban mas a verdade é que quem não leu, quem nunca pensou em dar a ler, tem mesmo de mergulhar e dar a conhecer esta saga que marcou muito mais do que uma só geração pois os pais (e os irmãos mais velhos) também não ficaram indiferentes a estes livros.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.