
Depois dos volumes Irrequieta, Madalena Perdigão e A mão e os gestos da Ana Hatherly, Catarina Sobral assina o terceiro volume da Colecção Infanto‑Juvenil «Heroínas Das Artes», publicada pelas Edições Tinta-da-china. Virar o Medo ao Contrário, como a Paula Rego é uma despretensiosa (mini)biografia com texto e ilustrações de Catarina Sobral.
«Heroínas das Artes» é uma “coleção de livros para todas as pessoas que acreditam que as heroínas existem”, uma edição que surge em parceria com o Centro de Arte Moderna Gulbenkian. A partir da coleção de arte moderna e contemporânea do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, o objetivo é “contar histórias sobre mulheres corajosas, aventureiras, ousadas e destemidas que, através da arte, transformam o nosso mundo”.
Virar o Medo ao Contrário, como a Paula Rego revela (ou comprova, para os conhecedores da sua obra) como Catarina Sobral alia a simplicidade possível de contar histórias pela arte, quando aliada a uma escrita ágil, lírica, sobretudo despretensiosa.
«A Paula desenhava sem parar.
Escondia‑se do escuro e de tudo o que lhe fazia medo. Mais tarde, a Paula expôs pelo mundo todo, escreveram livros e fizeram filmes sobre ela. A sua arte acordou os sonhos, misturou fantasia e realidade, e tentou virar tudo do avesso.»
A história de Paula Rego é contada, inicialmente, como a de qualquer outra criança, maravilhada com histórias, mesmo quando estas lhe fazem medo, como os “contos terríveis” que o pai lhe contava. É no quarto que ela existe verdadeiramente, onde desenhava sem parar, onde “se escondia do escuro e de tudo o que lhe fazia medo (que era tudo)”.
Dos 0 aos 87 anos, ao longo de cerca de 40 páginas, a autora passa em revista a vida e obra da pintora, uma mulher que teve a sorte de ser resgatada pelo pai quando aos 16 anos a envia para Inglaterra para estudar, como forma de a escudar da realidade mais terrível que os medos de Paula – a ditadura. Sem se deter em datas e informação estéril, especialmente para os mais novos, que se querem sobretudo presos pelo poder da imagem e da palavra acessível. Além disso, um leitor informado pode completar o texto breve com o conhecimento que detém, ou simplesmente consultar a cronologia biográfica que surge no final, em duas páginas.
Uma nota especial para a forma como, ao longo das ilustrações que surgem num traço singelo e livre, quase como rabiscos, a autora-ilustradora insere, em jeito de brincadeira ou piscar de olho, alguns quadros ou pormenores resgatados das telas de Paula Rego. Um pouco como os animais que pululam, aqui e ali, num jeito divertidamente insólito, e que reevocam as histórias tradicionais que serviram de inspiração à pintora da “Casa das Histórias”.
Catarina Sobral nasceu em Coimbra, em 1985. Estudou Design, fez um mestrado em lustração e, desde então, tem trabalhado como ilustradora e como autora de conteúdos para a infância. Também escreve, desenha, expõe, faz cinema de animação e dá aulas no Ar.Co. Publica com regularidade desde 2011 e tem livros traduzidos em várias línguas. Escreveu para rádio e para teatro. Entre livros e filmes, conta com dezenas de prémios.
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