Perder o Paraíso, da conceituada e premiada jornalista Lucy Jones, é um apaixonante ensaio publicado pela Temas e Debates, com tradução de Marta Pinho (Lufada de Letras), considerado Livro do Ano para o Times e o Telegraph e vencedor do Society of Authors’ K. Blundell Trust Award.

Há séculos que o ser humano age com base na intuição de que precisa da comunhão com o mundo natural para benefício do seu eu emocional, da sua psique, do seu sistema nervoso.

“Estamos profundamente enlaçados com o resto da natureza a nível linguístico e mental; criámos a nossa linguagem, cultura e consciência (…) dentro do, e em íntima relação com o, ambiente natural em que vivemos há milénios.” (p. 17)

Durante o século XX, 97 % dos prados de terras baixas e 90 % dos bosques de corte da Inglaterra e do País de Gales perderam-se, assim como as comunidades de animais e plantas que lá viviam. Simultaneamente, o nosso comportamento alterou-se: “fomos para dentro” (p. 15), vivendo em cubículos, carros, torres de apartamentos. Vivemos menos de 5 % do nosso tempo ao ar livre e fora dos ritmos do mundo natural. As crianças passam menos tempo no exterior do que os reclusos. Fala-se em níveis pandémicos de deficiência de vitamina D.

A autora elenca os custos psicológicos da degradação ambiental e da nossa desconexão, ao mesmo tempo que apresenta resultados inovadores e recentes de investigações cruzadas em áreas diversas, como a biologia, a neurociência e a psicologia, que comprovam os benefícios para o nosso sistema nervoso e imunitário de uma caminhada por uma paisagem natural, ou mesmo da simples observação de formas naturais, da audição de sons (como o canto de aves), dos cheiros ou da exposição à luz natural.

Com base nas suas viagens – das escolas florestais de Londres até ao Banco Mundial de Sementes de Svalbard –, leituras, entrevistas, e estudos, o ensaio de Lucy Jones parte de uma vasta diversidade de ideias e pensadores, tendo a autora conversado com ecoterapeutas e analisado a escrita de diversos autores (citando vários). Perder o Paraíso não se trata apenas de um manifesto de como podemos salvar o planeta, mas sim de como a Natureza nos pode salvar se nos reaproximarmos do mundo natural. É também um relato confessional de como a autora superou uma fase complicada da sua vida, de dependência, através da reconexão à Natureza. Este livro ganha ainda laivos narrativos, com diversas passagens descritivas que parecem saídas de um romance. A própria estrutura do livro corresponde às várias partes de uma árvore.

Lucy Jones nasceu em Cambridge, na Inglaterra, e estudou no University College London. Escritora e jornalista freelance desde 2015, é autora de numerosos artigos sobre cultura, ciência e natureza para a BBC, Sunday Times, The Guardian e New Statesman. O seu primeiro livro, Foxes Unearthed, sobre a relação entre os humanos e as raposas, foi galardoado com o Society of Authors’ Roger Deakin Award em 2015.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.