O Som das Coisas Leves Quando Caem, com texto de Catarina Ferreira de Almeida e ilustrações de Sérgio Condeço, foi publicado em Outubro pela Nuvem de Letras. Uma sólida e promissora estreia de Catarina Ferreira de Almeida, com um texto profundamente poético e pleno de significado, que se situa entre o conto e o livro infanto-juvenil. Há ainda um pequeno e discreto epílogo. Uma fábula que se estende por mais de 60 páginas e que toca a adultos e a petizes. São igualmente belíssimas as ilustrações de Sérgio Condeço, feitas em traços semelhantes a aguarela, em tons fortes, com predominância para as cores da ilha – verde e azul.

«A Menina e Jasmim viviam numa ilha.

Vista de cima, do céu, a ilha era um ponto minúsculo no meio do oceano. Vista de baixo, do fundo do mar, era apenas o pequeno cume de uma grande montanha submersa.»

Assim começa este texto profundamente poético sobre as aventuras de uma menina e da sua cadela numa ilha nunca nomeada. A ilha que não se consegue ver de fora, embora pareça enorme para quem lá vive, e já pensou em percorrê-la a pé. Uma ilha que apenas se deixa adivinhar para os de fora, minúscula no mapa-mundo e indetectável nos radares, que se move como um barco e nunca pára no mesmo sítio, onde o clima é inconstante, os animais e as árvores falam, e acontecem coisas mágicas. Podemos até pensar que esta é a ilha da Terceira, onde a autora, sabe-se, viveu dez anos, mas a verdade é que ninguém sabe ao certo onde se situa exactamente, pelo que talvez seja mais seguro afirmar que apenas existe no imaginário da autora e nas páginas deste belíssimo livro.

Na ilha, de onde os pais, a Menina e Jasmim se preparam para partir, há bicicletas e vulcões, florestas sussurrantes, araucárias com mais de 20 metros e vacas que se aguentam firmes em encostas íngremes, milhafres e polvos que falam por enigmas.

Catarina Ferreira de Almeida nasceu em Lisboa e passou a infância perto do Castelo de São Jorge, onde quase todos os dias acordava com o canto dos pavões. Estudou Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e concluiu o mestrado em França, na Universidade de Rennes 2, depois de passar muitas horas a ler nos cafés e nas bibliotecas de Paris.

É coautora do livro Muito Mais do que Saudade: do que falamos quando falamos de regresso, e da peça de teatro Eu nunca vi um helicóptero explodir. Publicou o seu primeiro conto na Avenida Marginal: Ficções, Ponta Delgada, em 2020.

Viveu dez anos na Ilha Terceira, de onde regressou com a sua cadela, Jasmim. Hoje em dia, são as duas muito felizes na Costa do Castelo, onde Catarina corre à beira-rio, traduz ficção, cozinha e escreve. E onde, por vezes, ainda se ouve o canto dos pavões.

Sérgio Condeço nasceu no Estoril, mas cedo foi para Moçambique, onde viveu a infância mais feliz. Recorda-se das chuvas torrenciais e do cheiro da terra molhada, das gargalhadas da sua mãe e do seu humor criativo. Era uma excelente fotógrafa e com ela experimentou os seus primeiros desenhos e fotografias.

Estudou Design Têxtil no Porto, mas nunca sentiu gostar de nada para além de desenhar e imaginar a vida com fantasia e muitas cores. Por isso, decidiu dedicar-se à ilustração. Cada livro ilustrado é uma descoberta, um desafio onde o medo chega primeiro do que a determinação. Todos os dias quando chega ao ateliê na sua vespa cor de laranja, abre a porta e pensa que nunca irá crescer verdadeiramente.

Participa em vários festivais de ilustração, exposições coletivas e individuais. Já ilustrou mais de uma dezena de livros, incluindo Porque não dormem os gatos?, A menina que queria desenhar o mundo e Quando for grande quero ser criança, todos na Nuvem de Letras.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.