O Legado da Papisa, de Helga Glaesener, traduzido por Fátima Andrade, publicado pela Editorial Presença no início deste ano, representa a continuação do romance histórico A Papisa Joana. Este bestseller internacional, de Donna Woolfolk Cross, foi igualmente relançado, com nova capa.
A ação começa na Dinamarca em 854 quando, após a morte de Gisla, sua mãe, às mãos de viquingues dinamarqueses, a jovem Freya tem de lutar pela sua sobrevivência. Gisla tinha sido raptada, dezassete anos antes, de Dorstadt, terra dos frísios, pelo que Freya considera que a única salvação possível é partir para aí, com a irmã Asta, e encontrar a única família de que ouviu falar: o avô Geraldo. O que Freya desconhece é que o avô está na Cidade Santa e é agora patrono do Papa. Na sua fuga, Freya, uma menina ruiva com nome de deusa nórdica, descobre que é mais fácil fazer-se passar por rapaz, bastando para isso vestir roupas masculinas. Além do desejo de encontrar o avô, de quem a mãe lhe falava, a sua outra referência, e bússola moral, será Joana, que em tempos salvou Gisla, constituindo um modelo de inteligência, coragem e bondade para a mãe e, subsequentemente, para a filha.
Quando Freya chega finalmente a Roma, a capital das intrigas e da traição, em 858, tendo aprendido a ler pelo caminho, acaba por conhecer a Papisa Joana. Mais tarde, durante uma procissão, a jovem testemunhará o homicídio de Geraldo e a morte trágica da Papisa.
O Legado da Papisa toca assim no final do livro A Papisa Joana e avança a partir daí numa nova direção. Ainda que se trate de um romance histórico, a leitura é ligeira, e a intriga é tão recheada de episódios e peripécias, normalmente de resolução célere, que, na verdade, o leitor pode sentir-se a perder o pé relativamente ao rumo da história. A sinopse, por exemplo, refere que o móbil da corajosa e inteligente Freya será descobrir quem está por detrás da morte da Papisa mas as aventuras prosseguem muito além dessa questão. Há momentos em que sentimos aliás que Freya parece seguir os passos da Papisa Joana, ao fazer-se passar por homem, ao adoptar igualmente o nome de João, na descoberta do saber clássico, na paixão pela leitura, no amor à cura e à medicina, mas Freya seguirá, de forma destemida, o seu próprio caminho, em que se cruza, inclusivamente, com personagens inspiradas em figuras históricas, como a abadessa Hermengarda.
Helga Glaesener nasceu na Alemanha e estudou Matemática em Hanover. Autora de romances históricos, o seu livro de estreia, The Saffron Merchant, tornou-se um bestseller imediato.
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