
O Amor no Novo Milénio, de Can Xue, está publicado pela Quetzal Editores, com tradução de Helder Moura Pereira. Uma voz feminina e inovadora que aproxima Ocidente e Oriente com um romance diferente e ousado. Sobre a autora, Susan Sontag afirmou: «Se a China tem possibilidade de um vencedor do Nobel, é Can Xue.». Foi um dos nomes apontados como candidata ao Nobel de 2024.
Uma mulher move-se num mundo claramente evocativo dos regimes totalitários. Operária numa fábrica, vigiada por estranhos que tentam insistentemente imiscuir-se na sua vida mas também ter um papel ativo nela, propondo-se desajeitadamente como seus pretendentes, o único escape é um spa que, na verdade, é também um misterioso bordel, ou casa de encontros sexuais, frequentado tanto por homens como por mulheres em busca de momentos de prazes – ou sobretudo de anulação -, se bem que às mulheres parece caber, inevitavelmente, o papel de prostitutas.
Niu Cuilan, mulher viúva de trinta e cinco anos, em plena flor da idade – pelo menos ela considerava que aquele era «o melhor tempo da vida de uma mulher» (p. 9) – conhece nesse spa, que inclui sexo na sua oferta de serviços, Wei Bo, homem casado, e que se tornará o seu “marido clandestino”. Acontecerá o amor como fruto do acaso? Cuilan tende a pensar muitas vezes “na velha crença de que há fatalidade no amor” (p. 35). Por isso, conhecer Wei Bo, como tantas vezes acontece nas relações, pode bem ter sido um encontro calculado.
Entre o sonho e a vigília, sem sabermos se é sonho ou realidade, sucedem-se uma série de encontros e desencontros, de entrada e saída de cena de diversas personagens, quase sempre associadas a esse spa. Persiste sobretudo uma aura de mistério, de insólito, de mágico, de sombrio, nos episódios que se sucedem numa estranha lógica, num mundo de fantasia.
Can Xue, pseudónimo de Deng Xiaohua, nasceu em 1953, na província de Hunan, na China. Os seus pais conheceram as prisões políticas, antes e durante a Revolução Cultural, e Can Xue, que contraiu tuberculose na adolescência, pôde apenas frequentar o ensino básico. Descobriu a literatura como autodidata, estudando inglês e trabalhando, primeiro numa fábrica e depois num pequeno negócio de alfaiataria que montou com o marido na cidade natal de Changsha. Considerada uma das mais inovadoras vozes da literatura chinesa de hoje, Can Xue escreveu romances, contos e ensaios literários (sobretudo em torno dos seus autores de referência, Borges, Dante ou Calvino) e o seu nome esteve várias vezes presente nas listas de candidatos ao Nobel. Entre os seus livros figuram Diálogos no Paraíso (contos, 1988), O Último Amante e Fronteira (romances, de 2005 e 2008).
Can Xue vive em Pequim desde 2001.
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