Hubert Reeves, astrofísico, ensinou cosmologia, e é um reconhecido divulgador da ciência, sendo a sua obra publicada em Portugal pela Gradiva. O seu mais recente livro é O banco do tempo que passa e pode muito bem ser a melhor forma de ficarmos a conhecer o autor e despertar a curiosidade pela sua obra. Como aliás indica Carlos Fiolhais num texto citado na badana do livro: «Este é o livro dos livros de Reeves: uma súmula dos seus conhecimentos e dos seus pensamentos sobre o Universo e sobre nós próprios.»
«Próximo da lagoa de Malicorne, em frente do grande salgueiro-chorão que se vê reflectido na água calma, instalámos um banco. Chamámos-lhe «o banco do tempo que passa». Sento-me nele com frequência para tentar apanhar o fiozinho do tempo que nos conduz ao longo de toda a nossa existência.» (pág. 13)
Este livro tem origem nos momentos de reflexão que o ilustre astrofísico experienciou frente a essa lagoa e é uma sequência de meditações mais ou menos dispersa mais ou menos organizada por temas caros ao autor, que o próprio leitor pode ir lendo sem linearidade ou compulsividade, tomando este livro como um guia ou um diário, impulsionando-o às suas próprias reflexões e divagações. Estas notas, umas vezes estendendo-se por 2 ou 3 páginas, outras limitando-se a uma frase ou a uma citação, são essencialmente pessoais, por vezes cruzadas com memórias do próprio cientista, onde este não só recupera ideias já abordadas nas suas outras obras como apresenta, em alguns momentos, breves sínteses. E apesar da sua formação empírica, o autor não descura um espaço para a religiosidade: «Entre os dogmas religiosos e as certezas ateias há espaço para as espiritualidades inquisitivas.» (pág. 92)
Destaca-se sobretudo a linguagem clara e simples, sem pretensiosismos nem complexificações científicas, e a capacidade de maravilhamento permanente perante o universo e a vida que o autor consegue transmitir ao leitor, nesta singela tentativa de «humanizar uma Humanidade que muito disso necessita.» (pág. 113)

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.