A Gradiva continua a publicar excelentes livros de banda desenhada. E dá provas de que a banda desenhada (ou para os mais selectos, a novela gráfica) pode ser tão ilustrativamente educativa quanto divertida – a página dos slogans, na foto, é deliciosa.

Aristóteles, com textode Tassos Apostolidis e ilustrações de Alecos Papadatos, com tradução de Isabel Lopes, é mais um livro do desenhador do Logicomix, também publicado pela Gradiva em Portugal.

Como o título indica, falamos daquele de quem todos conhecem o nome. Aparece em todos os livros escolares: «Aristóteles, filósofo grego, nascido em 384 a. C.» Sabemos até algumas curiosidades, como a de ter sido professor de Alexandre, o Grande. Mas saberemos de facto quem foi este homem que nasceu há mais de 2300 anos, cujas teorias continuam a ser estudadas? Qual é o estudante de letras que nunca leu a sua Poética? (obra ainda hoje fundamental para os estudos literários)

Esta é a sua história de vida, desde que chegou a Atenas como estrangeiro, um meteco, pois era oriundo da Macedónia. Ainda assim, apesar de ser de terra alheia, isso não o inibiu de, ao querer saber de tudo um pouco, começar inclusivamente a contestar o saber dos grandes, como Platão. Platão que, primeiro como mestre, e depois como um companheiro, se torna uma figura determinante na filosofia de Aristóteles. O curioso é que a sua presença nesta obra, ao longo de algumas páginas, é também quase muda – pois ao interrogar Aristóteles acerca dos seus estranhos comportamentos e teorias, Platão invariavelmente responde um lacónico “certo”, de quem parece estar a assimilar sem contestar.

Por outro lado, o que não falta neste livro é contexto. Toda a informação, todo o conhecimento, é aqui apresentado, ilustrado, com o mínimo de texto possível, resultando ainda assim num livro de mais de 200 páginas.

Teofrasto, narrador desta história, um dos seus discípulos, diz-nos, mais perto do fim, que Aristóteles lhe terá deixado o seu legado: 106 rolos contendo 170 obras, mais de 140.000 linhas.

As suas obras dividem-se em duas categorias, os escritos “esotéricos” que se destinavam aos alunos do Liceu, sobretudo compostos por notas e comentários sobre temas como física, filosofia, ética, política, que usava nas suas aulas, e depois revia, completava, corrigia. Depois, os seus escritos “exotéricos” destinavam-se a um público mais alargado e abordavam assuntos mais simples da ética, da retórica, da arte. Podemos ler que “À exceção dos seus escritos científicos, muitas das suas obras não trazem novos conhecimentos, mas guiam a inteligência humana para um pensamento mais verdadeiro”. Aristóteles, contestando a ideia platónica do mundo das ideias, defende que a única realidade é a que apreendemos através dos nossos sentidos. Tudo o fascinava: a astronomia e a biologia, assim como a política e a metafísica. Devorava tudo o que podia ler – até sobre o taoísmo e Confúcio –, e chegava a interrogar as pessoas – até do povo – sobre os mais variados assuntos. Ao longo da sua vida preocupou-se sobretudo com a necessidade de provar o conhecimento e de categorizar as ideias em ordens.

Tassos Apostolidis nasceu em 1947 na cidade grega de Tessalónica. Depois de estudar matemática, trabalhou durante 42 anos como professor do ensino secundário numa escola pública. Em 1973, publicou a obra “Écrits gais pour gens moroses”, e numerosos guiões de banda desenhada baseados nos clássicos da Grécia Antiga. Em 2021, ao lado de Alecos Papadatos cria a obra “Aristóteles” (Dargaud). Escreveu e dirigiu peças de teatro e stand-up. É membro da Sociedade de Encenadores Gregos, da Federação Europeia de Encenadores (F.E.R.A.) e da Federação Internacional de Encenadores (M.E.I.).

Alecos Papadatos nasceu em Salónica, na Grécia, em 1959. Depois de se ter licenciado em economia no seu país natal, prosseguiu os seus estudos em França, na Universidade Paris-Sorbonne. Em 1984, mudou completamente de carreira, dedicando-se à banda desenhada. Durante seis anos, trabalhou como animador para os Cartooneurs Associés e para o estúdio Ellipse (filial do CANAL+). Em 1990, Alecos regressa a Atenas juntamente com a sua mulher e colaboradora, Annie Di Donna. Fundou o seu próprio estúdio de produção de desenhos animados, Spicy Toons. Em 2003, começou a desenhar a novela gráfica “Logicomix” (Bloomsbury), que concluiu em 2008. Em 2015, publicou “Democracy” (Bloomsbury). Em 2021, a Dargaud lançou no mercado “Aristóteles”, que desenhou para Tassos Apostolidis.