Verbena e Colibri é o terceiro álbum conjunto com texto de Fran Pintadera (oriundo de Las Palmas, Grã-Canária) e ilustrações de Ana Sender (Barcelona). Os seus dois livros anteriores, Porque choramos? e Porque temos medo? (por aqui apresentado), já foram publicados em 12 países. Com tradução de Catarina Sacramento, este álbum infanto-juvenil integra a coleção Akialbum. Tem em comum com o álbum Com as mãos, de Elena Bernabè (também já aqui apresentado) não só o formato como o género de ilustração e o texto em jeito de diálogo. Verbena e Colibri é uma conversa, aparentemente banal, quotidiana, entre uma flor e um pequeno pássaro. A “verbena é uma flor violeta e o colibri é um colibri”, uma ave irrequieta que tem de voar rápido de um lugar para outro em constante movimento. Mas todos os dias se vêem, quando o colibri voa até à verbena e lhe conta aquilo que vai vendo, ao que a verbena responde invariavelmente o que vê a partir do seu canto do jardim: a cerca branca, o campo verde, o céu azul. Mas, subtilmente, as próprias imagens do livro começam a revelar como essa paisagem aparentemente estática, na forma como a verbena a enumera sem alterações ou contornos expressivos, é afinal variável, pois ainda que o tempo pareça inexoravelmente idêntico no seu ritmo imparável, a meteorologia e a natureza trazem surpresas. As ilustrações são analógicas, misturando diferentes materiais para conseguir uma textura e profundidade únicas, com cores e contornos ora vivos ora esbatidos que parecem indicar o estado de espírito da própria natureza.
E assim, o colibri que na sua irrequietude considera que a verbena vive uma vida desinteressante e entediante, acabará por aprender como afinal, mesmo sem sair do mesmo sítio, podemos viajar e estar em muitos sítios.
O mais precioso deste livro pode ser descobrirmos como o diálogo com o outro é uma forma de nos descobrirmos, de entendermos perante o mundo, como tantas vezes sucede nos grandes clássicos da literatura infantil, e desde o princípio das conversas filosóficas entre um mestre e um pupilo, ou apenas entre dois amigos. Na verdade, como se salienta no guia de leitura no final do livro (uma especificidade inovadora e valiosa usual desta editora), esta reflexão poética e profunda sobre o movimento e a quietude, sobre a acção e a contemplação, deve ser entendida como uma representação das várias facetas que todos nós temos, na forma como o nosso comportamento nunca é linear ou uniforme. A contraposição destes polos complementares personificados em figuras distintas atravessa afinal as várias obras de literatura, em que podemos ler as diferentes personagens como representações de diferentes estados de alma de uma só entidade, que integra todas as personagens. Por outras palavras, todos nós podemos ser o herói, a princesa, a bruxa, o dragão, tudo depende do momento, do humor, do estado de alma daquele instante.
Verbena e Colibri, a par do álbum Com as mãos, de Elena Bernabè, constitui um manifesto em defesa da experiência da serenidade, da quietude e da contemplação (em contraposição com um mundo digital e de velocidade feito de pequenos nadas em constante movimento).
Como sempre, a AKIARA trabalha com critérios de sustentabilidade, reduzindo o uso de plástico e o impacto ambiental. São edições ecológicas, com papel certificado FSC (provém de florestas certificadas), capa sem plastificação, e produção local. A editora, a cargo de Inês Castel-Branco, publica os seus livros em português, catalão e espanhol.
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