O Jovem, de Annie Ernaux, com tradução de Maria Etelvina Santos, soma ao catálogo de obras que vinha a ser publicado pela Livros do Brasil ainda antes da atribuição do Prémio Nobel de Literatura no ano passado. Este texto representa um inédito, publicado em 2022, poucos meses antes de a autora francesa ser distinguida com o Nobel. Este é já o quinto título da autora na coleção Dois Mundos e faz-nos ansiar pelos próximos títulos da autora.
O Jovem representa a um tempo um texto de natureza tão breve quanto crucial na obra de Annie Ernaux, especialmente pela forma como aqui se entrelaçam e referem algumas das suas obras entretanto publicadas (como a referência ao aborto, em O Acontecimento, ou à infância na província cujo passado de alguma forma pretendeu erradicar). Um romance com menos de 40 páginas, numa edição que inclui fotografias do arquivo privado da escritora, uma extensa biobibliografia e a reprodução de uma página manuscrita da autora. Um testemunho cuja natureza é mais marcadamente narrativa do que outras das suas obras. Um relato intimista, como lhe é usual, representando também um testemunho e um documento social, em que a autora tece um retrato social do seu tempo, nomeadamente do pecado de amar aos 54 anos, alguém que é trinta anos mais jovem, o que suscita preconceito, ciúmes, volúpia, …
É também sobre um eu trinta anos mais jovem que a autora nos escreve, num tempo em que “permanecia face à incerteza do sucesso dos meus livros” (p. 18).
Por fim, o que parece ditar o desfecho da relação não será, afinal, a diferença de idades ou os ciúmes dele, mas sim ela poder ler nele os sinais do seu primeiro mundo, a origem popular a que de alguma forma tentou fugir.
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura.
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