Nas suas mãos, de Leïla Slimani e Clément Oubrerie, não representa uma estreia da autora na BD, mas é a sua primeira novela gráfica publicada em Portugal, com selo da Iguana. Este livro de banda desenhada é, na verdade, uma biografia sobre a primeira mulher a praticar cirurgia estética no mundo. A tradução é de Tânia Ganho.
Neste álbum, a vencedora do prémio Goncourt junta-se a Clément Oubrerie, ilustrador com várias obras premiadas e vencedor de um César para melhor animação, para dar a conhecer a vida de Suzanne Noël, feminista convicta que atravessou as duas guerras e desafiou as normas da época (aos preconceitos de ser uma mulher, e ainda por cima cirurgiã – num tempo em que as mulheres só eram chamadas para cuidar da casa, dos filhos, e bordar -, somam-se ainda os preconceitos dentro da própria classe médica relativamente à vacuidade da cirurgia estética). Mas a obra de Suzanne não se limitou a esticar rugas, ou a devolver a juventude a estrelas como Sarah Bernhardt. Suzanne sacrificou a vida familiar para devolver qualidade de vida e autoestima aos seus pacientes, nomeadamente combatentes que ficaram deformados durante a II Guerra Mundial ou criança chinesa que nasceu sem rosto. Além disso expandiu uma série de clubes femininos.
As ilustrações têm um certo tom noir, e esbatido, que parecem remeter o leitor para os artistas predilectos da protagonista – uma grande apreciadora de arte que nos primeiros anos do seu casamento se perde por galerias sem fim. Há ainda alguns apontamentos que lembram o surrealismo de Frida Kahlo – a menina da caveira a flutuar…
O texto é também conciso, quase nunca narrativo ou descritivo, pois as imagens falam por si e a intriga avança com base em pequenos episódios-chave que vão traçando o perfil desta notável cirugiã francesa que lutou pela emancipação da mulher e defendeu o papel social da cirurgia estética. A narração, inicialmente na terceira pessoa, passa depois, perto do final, à primeira pessoa, com uma Suzanne Noël mais madura.
Leïla Slimani é autora de vários romances aclamados pela crítica e pelos leitores. Canção doce (Alfaguara, 2017), vencedor do prestigiado Prémio Goncourt 2016, foi traduzido em cerca de trinta línguas. É também autora das novelas gráficas Paroles d’honneur, Sexe et mensonges (Les Arènes, 2017) e Nas suas mãos (Iguana, 2024).
Clément Oubrerie é cartoonista, argumentista e realizador de cinema. Em 2005, publicou a sua primeira banda desenhada, Aya de Yopougon, traduzida em dezassete línguas. É também o autor de Voltaire amoureux, publicado pela editora Les Arènes. Recebeu numerosos prémios, nomeadamente o de Angoulême.
Leave a Comment