Cães Maus Não Dançam é o novo romance de Arturo Pérez-Reverte, autor cuja obra tem sido publicada pela ASA (LeYa), traduzido do castelhano por Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Uma narrativa negra e assombrosa, que reflecte sobre a vida pela perspectiva do ser mais leal, o cão.

«O meu dono julgava que eu lutava por ele, mas enganava-se. Sempre lutei por mim. Devido à minha raça e ao meu carácter, sou um lutador nato: naquele tempo pesava cinquenta quilos, media setenta e quatro centímetros das patas à cernelha e tinha uma boca com fortes caninos (…). Nasci rafeiro, cruzamento de mastim espanhol e cão-de-fila brasileiro. Quando era cachorro, tive um daqueles nomes ternos e ridículos que põem aos cãezinhos recém-nascidos, mas já passou muito tempo desde então. Já me esqueci. Há muito que todos me chamam Negro.» (p. 11)

Negro foi transformado num assassino pelo homem, a ganhar a vida em lutas de cães durante dois anos, e tornou-se uma lenda entre os cães. Quando este leal amigo, com «olhos de velho, alma cheia de cicatrizes e olhar resignado, feito de séculos de sangue e fatalidade» (p. 11), se apercebe do desaparecimento de dois rafeiros do bairro, Teo e Boris, fará tudo para descobrir o seu paradeiro, incluindo colocar a sua vida em risco e regressar ao seu passado de lutador.

Cães Maus Não Dançam lê-se como um romance policial, tão original quanto divertido, em que o autor mantém a proeza de não deixar a narrativa, imbuída de um fino e delicioso humor negro, resvalar para a paródia. Ao mesmo tempo constrói uma metáfora sobre a vida e os seus valores, ao jeito de uma fábula, pois apesar de a visão dos cães alcançar no máximo a altura dos joelhos dos homens, é também sobre a natureza humana que aqui se discorre:

«Entre os humanos há de tudo: seres dignos que nos dão educação, amor e felicidade, e seres miseráveis cujas virtudes não estão à altura das de um bom rafeiro: gente vil que nos dá cabo da vida e nos leva à tristeza, ao abandono, à solidão, ao horror e à loucura. Entre estes últimos, os maus, há também tipos muito diversos, do animal estúpido cuja bestialidade grosseira supera a nossa, até ao que tem dois dedos de testa e consegue raciocinar com inteligência.» (p. 128)

Arturo Pérez-Reverte, um dos escritores espanhóis mais lidos em todo o mundo, nasceu em Cartagena, Espanha, em 1951. Foi repórter de guerra durante vinte e um anos. Autor de uma extensa e premiada obra, traduzida para mais de 40 idiomas, com várias adaptações ao cinema e televisão.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.