Kyle Gray é um jovem que, com menos de 30 anos, se tornou num dos mais populares médiuns no Reino Unido e um conferencista internacional de renome. Kyle Gray começou a ter as suas experiências mediúnicas aos 4 anos, quando a avó já falecida começou a manifestar-se e a conversar com ele. Normalmente designado como um médium de anjos, os livros anteriores do autor, também publicados pela Pergaminho, abordam a angeologia: O encantador de anjos, Orações aos anjos, As asas do perdão. Para aqueles que não acreditam em anjos, basta considerar a hipótese de que o espírito daqueles que já partiu pode sempre voltar a manifestar-se junto dos entes queridos que aqui deixou e é livre de assumir as mais variadas formas, como forma de se tornar mais reconhecível mas também para transmitir alguma paz e conforto aos que ficaram em vida. Conforme escreve o próprio autor, os anjos podem também ser designados como guias, entidades que nos acompanham e apoiam, mas sempre respeitando o livre-arbítrio apanágio dos humanos. O livro parece surgir como testemunho escrito que resulta de conferências ou palestras proferidas pelo autor, dado o tom intimista, próximo e coloquial que nos leva desde as primeiras páginas a perceber, de modo a perceber que de forma simples a espiritualidade não é uma ideia vaga ou uma abstracção apenas ao alcance de alguns, mas sim algo que deve nortear a vida de todos nós, uma vez que somos seres espirituais a viver uma experiência física.

A primeira parte do livro, mais teórica ou geral, e que consiste em 46 páginas, aborda de forma sucinta a questão das vibrações: tal como a física quântica tem demonstrado, cada vez mais, tudo aquilo que existe é energia e a energia permeia tudo em nosso redor. Somos feitos de energia e tudo aquilo que tocamos, que ingerimos, tem uma energia própria. É aliás já prática comum dizer-se algo como «Não gosto da energia deste sítio» ou «A minha energia choca com a daquela pessoa».

Na linha de pensadores como Shakti Gawain (autora de Visualização Criativa), Kyle Gray procura sensibilizar o leitor para o facto de nós sermos responsáveis pelo mundo que criamos para nós próprios, e que os pensamentos e sentimentos são justamente projecções poderosas que moldam a nossa realidade pelo que o verdadeiro «milagre está na nossa capacidade de mudar a forma como pensamos e de reescrever a nossa história interior.» (pág. 17). E porque este é um livro sobre energia, o autor leva-nos numa viagem pelos nossos centros de energia, mais comummente conhecidos como chakras, sendo que nos ensinamentos tradicionais do ioga existem sete centros energéticos, mas actualmente há quem trabalhe também outros três chakras, mais periféricos em relação ao nosso corpo, isto é, situando-se fora do corpo físico mas dentro do nosso corpo energético (passo a explicar melhor: a ideia defendida pela espiritualidade é a de que o nosso corpo físico é energia que vibra numa velocidade mais lenta, e está contido no nosso corpo espiritual que será, por sua vez, pura energia a vibrar muito mais rapidamente, o que explica que os espíritos ou guias ou anjos não sejam propriamente visíveis por qualquer pessoa). No total, temos portanto nove chakras e o autor faz uma breve introdução a cada um, explicando a sua localização, cor, função, para depois apresentar 10 breves exercícios muito práticos para cada um dos nossos centros energéticos, seja como prática de meditação ou  mesmo um exercício mais complexo, e que devem ser uma bússola que mude as nossas vibrações não só no momento em que o exercício é lido mas ao longo desse dia de modo a levarmos uma prática mais espiritual e centrada. No final, o autor apresenta mais duas sequências de 10 exercícios que conjugam, agora, todos os chakras entretanto devidamente alinhados.

Kyle Gray desmistifica neste livro a ideia de a espiritualidade ser apanágio de certos gurus e procura torná-la acessível a todos os leitores, e ao defender a importância de uma Prática Espiritual Diária criou um guia prático e utilitário que pode ser usado sequencialmente ou aleatoriamente ao longo de 111 dias, pois dispõe de 111 técnicas de meditação e reflexão acompanhadas de uma curta oração ou mantra, de modo a poder resolver bloqueios ou simplesmente centrar-se em termos energéticos e emocionais.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.