Se quiserem ler alguma novidade, leiam Annie John, de Jamaica Kincaid, com tradução de Alda Rodrigues, publicado pela Alfaguara.
O romance de estreia de Jamaica Kincaid (pseudónimo de Elaine Potter Richardson), autora nascida na ilha caribenha de Antígua e Barbuda, é uma verdadeira tour de force de mestria literária, num romance a que não falta, inclusive, um certo maravilhoso, nas primeiras páginas. Publicado em 1985 e reconhecido em 2010 com a Medalha Clifton Fadiman do Center for Fiction, este romance de estreia é também considerado a obra-prima de uma das mais aclamadas escritoras norte-americanas das últimas décadas, até agora inédita em Portugal. E seguir-se-ão, ainda este ano, pelo menos mais dois livros publicados pela primeira vez entre nós: Lucy e Autobiografia da minha mãe.
Vencedora dos prémios Guggenheim Award for Fiction, Prix Fémina Étranger, Royal Society of Literature e Paris Review Hadada Prize.
Narrado na primeira pessoa, somos arrebatados por uma voz única, de uma menina que primeiramente tem 10 anos, numa prosa torrentosa, exuberante (ou não fosse ela caribenha), ora cheia de amor, ora cheia de fúria incompreendida. Uma história que narra a magia e o fascínio próprio da infância (até mesmo a mórbida curiosidade de Annie John pelos mortos) para depois declinar esse tema universal — a perda da infância — de forma única e assombrosa, pois à perda do Paraíso em que vivia esta criança irreverente, desobediente, aluna brilhante, criada por um pai carinhoso e uma mãe extremosamente afectuosa, corresponde, muito rapidamente, em poucas linhas, a drástica mudança na sua relação com a mãe. Quando Annie faz doze anos, que é também quando muda de escola para um novo colégio de meninas, tudo muda: o ter várias disciplinas, novos cadernos, muitos manuais, diversos professores (ingleses que se lavam mal e cheiram como se tivessem saído de dentro de um peixe), novas colegas, uma nova amiga (de quem se sente levemente enamorada). Mas a mudança principal, a que ela parece incapaz de dar resposta, mesmo quando escreve sobre o assunto num texto que arrebata a turma e a professora, é a forma como a mãe de súbito a parece rejeitar e se torna distante e fria, conforme a própria Annie se sente a crescer e metamorfosear-se numa estranha criatura.
Jamaica Kincaid, pseudónimo de Elaine Potter Richardson, nasceu na ilha caribenha de Antígua e Barbuda, em 1949. Aos dezassete anos, viu-se forçada a abandonar os estudos e a emigrar para Scarsdale, Nova Iorque, para contribuir financeiramente para a subsistência da sua família. Kincaid, contudo, haveria de renunciar ao jugo familiar e apenas voltaria à sua ilha natal vinte anos mais tarde. Entre 1976 e 1995, foi staff writer da revista New Yorker. O seu romance de estreia, Annie John, foi publicado em 1985 e reconhecido em 2010 com a Medalha Clifton Fadiman do Center for Fiction. Seguiram-se os romances Lucy, Autobiography of my mother, Mr. Potter e See now then, além de volumes de contos e de não-ficção. A sua obra literária, traduzida em mais de vinte idiomas, tem sido transversalmente aclamada pela crítica, pela academia, pelos leitores e pelos pares. Kincaid — frequentemente apontada para o Prémio Nobel de Literatura — tem visto o seu trabalho reconhecido com importantes prémios e distinções: Guggenheim Award for Fiction (1985), Lannan Literary Award for Fiction (1999), Prix Fémina Étranger (2000), Dan David Prize in Literature (2017), Royal Society of Literature International Writer (2021), Paris Review Hadada Prize (2022). Doutorada honoris causa em Humanidades pelas universidades de Colgate, Tufts e Brandeis, é membro da American Academy of Arts and Letters e da American Academy of Arts and Sciences, e professora de Estudos Africanos e de Estudos Afro-Americanos na Universidade de Harvard.
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