
A Mulher Suspensa será, supostamente, o terceiro romance publicado pela autora francesa, Nobel de Literatura, Annie Ernaux. A tradução é de Maria Etelvina Santos.
Para os leitores habituais, e independentemente da forte carga autobiográfica que se pressente desde logo, será nítida a relação com os outros livros da autora. Tenho lido todos, ainda antes da atribuição do Nobel em 2022, pois a Livros do Brasil numa feliz sincronia começou a publicar Ernaux em 2020, com Os Anos, por isso quando chegou este livro, acabou logo por saltar para o topo da lista de prioridades de leituras próximas – essa pilha eterna em constante mutação e atropelo.
Lançado originalmente em 1981, A Mulher Suspensa explora a infância de uma jovem, filha da classe operária, para depois se deter na idade intermédia, em que o a mulher irrompe da menina, mas há ainda uma certa indefinição entre a fase do casulo e a fase da mariposa. A autora detém-se no papel da mulher na sociedade, centrando-se na vida da protagonista sobretudo na sua relação com a mãe, na figura peculiar do pai que tinha comportamentos mais típicos do modelo maternal – para espanto das amigas e colegas da protagonista-narradora -, nas suas primeiras amizades, na descoberta da feminilidade e da sexualidade, até, por fim, chegar aos primeiros namoricos, e à fase de suspensão em que o corpo se detém permanentemente entre o atrever-se – e manchar a honra – e o saber guardar-se – para não corromper a imagem. O papel da rapariga é reforçado, por oposição, uma vez mais, ao papel do rapaz, a quem convém justamente ir namoriscando mas nunca se deixar prender demasiado cedo, enquanto que a mulher quer-se casada e rápido – o curso universitário tira-se sobretudo como ocupação…
Em suma, uma mulher, mesmo que tenha concluído um curso, uma rapariga que ainda não casou, subsume-se a uma “existência ainda indeterminada” (p. 117), cuja vida permanece em suspenso, por cumprir.
A escrita de Ernaux é aqui, possivelmente mais do que noutros livros, incisiva, concisa, quase telegráfica – muitas vezes transmitindo imagens e ideias com meias frases.
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura em 2022.
Hoje terminei A Outra Filha. Ainda só tinha lido Os Anos.
Gosto muito desta autora que não conhecia antes de lhe ter sido atribuído o Nobel.
Gosto bastante, mesmo que pareça a alguns leitores um pouco repetitiva e obsessiva nos seus temas. E são livros breves, que agarram pela coragem do tom e a nudez da escrita.