A música de Max Richter é um oxímoro. Se, por um lado, parece inconfundível, com acordes e um minimalismo gradativo facilmente reconhecível, é, por outro lado, sempre desafiante, inovando de álbum para álbum.
Em Recomposed adapta Vivaldi numa espécie de versão em loop (o que não deixa de ser fabuloso).
Em Sleep criou um álbum de oito horas que intenta proporcionar um estado de relaxamento profundo, indutor de sono (eu chamo-lhe a minha música de avião, quando nas viagens intercontinentais tento obrigar-me a dormir).
Em Three Worlds – Music from Woolf Works, não só resgata a voz de Virginia Woolf como ainda cria uma banda sonora para 3 dos seus principais romances (Mrs. Dalloway; Orlando; The Waves).
No seu mais recente álbum, Voices, Max Richter dá agora voz à Declaração dos Direitos Humanos, em várias vozes, nas mais diversas línguas.
«All human beings are born free and equal»
Assim começa este álbum… e perguntamo-nos, conforme a voz se silencia e a música se propaga nas suas usuais ondas de som, onde é que este senhor quer chegar desta vez… E conforme, ao longo dos vários movimentos, continuamos a ouvir cada um dos artigos da Declaração dos Direitos Humanos, percebemos que, afinal, essa é a pergunta que o compositor nos está a colocar: vejam o mundo a que chegaram e pensem para onde querem ir agora a partir daqui…
A minha parte favorita é, de longe, o movimento Chorale. A primeira vez que o ouvi não deixei de sorrir quando de repente ouço a Declaração lida em português… mas a música que a partir daí se prolonga é absolutamente deslumbrante… é como libertar a alma e deixá-la voar sobre o mar até tocar um horizonte inatingível.
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