Viagem ao País da Manhã, de Hermann Hesse, publicado pela Cavalo de Ferro em Janeiro deste ano, é uma narrativa breve e incontornável do autor alemão agraciado com o Nobel em 1946. À semelhança de outras obras suas, Hesse narra o percurso singular de uma personagem cuja vida é eivada de espiritualidade e conhecimento, como Demian, Siddhartha ou Goldmundo.
O músico H. H., maestro e violinista protagonista desta aventura, é convidado a integrar uma Ordem secreta e a participar numa viagem única, cujo fim não é alcançar um destino geográfico, mas sobretudo uma travessia rumo a um estado de alma, através de outras dimensões da realidade, onde pululam até personagens literárias, viajando através do espaço e de épocas. Unidos por um destino comum, mas com os seus objectivos próprios, os companheiros de viagem seguem nesta demanda, onde uns procuram tesouros, ou ver a bela princesa Fatme e conquistar o seu amor, enquanto outros buscam a serpente Kundalini.
Paradoxalmente, a vida de H. H. segue um caminho inverso de outras personagens de Hesse, nomeadamente quando a comitiva se desfaz e ele, outrora um dos irmãos mais fiéis e crentes, com um espírito criativo vivo, fica preso num único episódio pequeno, o do desaparecimento de Leo, um servo e voluntário do grupo.
Viagem ao País da Manhã é uma história em jeito de fábula, redescoberta a cada nova leitura, e, a par de Siddhartha e de O Lobo das Estepes, uma das obras maiores de Hesse, que se interliga num mosaico com outras obras do autor, pois reencontramos personagens como o pintor Klingsor do livro O Último Verão de Klingsor (Dom Quixote), com laivos autobiográficos.
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