Uma Ida ao Motel e outras histórias, de Bruno Vieira Amaral, publicado em Julho do ano passado pela Quetzal, é o primeiro livro de contos do autor e foi agora premiado com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco APE 2021.

Este livro é o resultado de um conjunto de histórias que Bruno Vieira Amaral semanalmente escreveu para o Expresso Diário. Cada um dos contos não ultrapassa as 6 páginas, geralmente narrados na terceira pessoa, de forma sóbria e contida, e surgem como instantâneos da existência infeliz destas personagens «a meio do caminho da vida» (p. 15). Contudo cada uma destas narrativas é escrita com a densidade psicológica própria de um romance, conforme se disseca com minúcia o sentir de cada uma destas vidas.

O que une estes contos parece ser a forma como as personagens se encontram geralmente num confronto com a “mediocridade da sua existência” (p. 11), como Rosário, a protagonista da primeira história «Noite de Estreia». Uma luta muitas vezes inglória em que apesar de desejarem uma outra vida dão por si a aplaudir a sua própria ausência do palco. Vidas medianas como a de Irina em «O mergulho», para quem é mais fácil cobiçar a vida do próximo do que mergulhar nesse «ímpeto de dar um novo rumo à vida» (p. 35) que surge impetuosamente nas férias para logo se desvanecer com o regresso à rotina. Para outras, como Mariana («Meia hora antes de Mariana»), o confronto com o vazio existencial das suas vidas resume-se a uma «meia hora em que o mundo à sua volta era todo mãos húmidas e terror desejável» (p. 40).

Em cada história desta colectânea a vida parece cingir-se num instante decisivo entre a revelação de uma mudança possível e um beco sem saída, uma bifurcação entre a «remota esperança de felicidade» e a «necessidade mecânica de manter a vida em funcionamento» (p. 163). Há lugar para contos mais insólitos como «Homens bonitos», «Um dia de praia», ou «Pacto de amor», mas com raras excepções, como no conto «Cinquenta almoços», o autor não cede a finais felizes na narração destas vidas amargas e tristes, histórias que não se contam a ninguém, de pessoas que se movimentam entre a metrópole e os subúrbios.

Bruno Vieira Amaral estudou História Contemporânea e é crítico literário, ensaísta e romancista. Atualmente colabora com a Ler e o Expresso e com a Rádio Observador. O seu primeiro romance, As Primeiras Coisas (Quetzal, 2013), foi distinguido com diversos prémios, nomeadamente o Prémio Literário José Saramago.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.