Um Homem em Declínio, de Osamu Dazai, com tradução do inglês de Manuel Alberto Vieira, é o reverso do díptico formado com As Flores do Riso, ambos publicados pela Presença. Um Homem em Declínio, prequela de As Flores do Riso (em Portugal foi também publicado primeiro), éo romance mais traduzido do autor, já apontado como o “adorado bad boy da literatura japonesa”.

«A minha vida foi marcada pela vergonha. Não consigo sequer imaginar como será viver a vida de um ser humano.»

Yozo (o mesmo que encontraremos em As Flores do Riso) vê-se como um verdadeiro fracasso. A sua vida – aqui narrada na primeira pessoa – pode parecer normal, ele pode até divertir toda a gente por meio das suas constantes palhaçadas, mas a verdade é que ele coloca uma máscara de modo a camuflar a sua alienação, a sua gritante incapacidade de viver segundo as regras e convenções comezinhas da sociedade, uma acutilante sensação de inadaptação, de falta de empatia ou mesmo de ser capaz de perceber os outros seres humanos.

A farsa acaba por se desvelar quando, já na universidade, comete, com outra mulher, uma gorada tentativa de suicídio (também como acontecerá na sequela deste romance).

Um retrato brutal e íntimo da alienação e apatia, que não deixa espaço ao sentimentalismo ou ao drama.

Com claros traços autobiográficos, Um Homem em Declínio é considerado como o derradeiro e mais importante romance de um dos grandes escritores japoneses do século XX. Escreveu-se que se trata de um símbolo de uma geração, aquela que deixava a guerra para trás e vislumbrava os alvores de uma sociedade pós-moderna.

As obras de Osamu Dazai são reconhecidas por abordarem temas como a natureza humana, as doenças mentais, as relações sociais e o Japão pós-guerra.

print
Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.