Um daqueles livros que queremos começar com apenas um conto para ir alternando com outras leituras mas, subitamente, um conto sabe a pouco e queremos sempre ler mais. Desenha-se um sorriso no rosto logo desde as primeiras linhas com o tom irónico, humorístico, e a crítica sagaz que entretece uma certa análise perspicaz e prática do insólito dos contos de fadas com a observação cáustica e mordaz de alguns comportamentos da actualidade, das massas, do ser humano, que talvez não seja tão diferente nos dias de hoje do que quando vivia nas trevas da Idade Média… Cada conto não dura mais do que umas 5 a 10 páginas, mas é justamente na condensação que se pode ver a mestria e o domínio da narrativa. As histórias discorrem de forma ligeira, sem que nos identifiquemos propriamente com as personagens, talvez porque tal como nos contos de fadas sentimos sempre essa distância entre este nosso mundinho e o irreal das suas peripécias. Quando pensamos nestas personagens dotadas de fabulosa beleza ou outros atributos que tais de grande utilidade na vida, podemos perguntar-nos, no mais íntimo, «Quem não iria querer lixar estas pessoas?», como o próprio narrador indica logo ao abrir do livro. Da mesma forma que os heróis ou protagonistas não são propriamente movidos pelas mais nobres razões, até à data não há finais felizes, pelo contrário, são tristes e quase sempre solitários, nos antípodas do “e viveram felizes para sempre”.
A edição da Gradiva é absolutamente fantástica, com ilustrações de Yuko Shimizu de um carácter negro a condizer com o tom dos contos.
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