Saramago, os seus nomes: um álbum biográfico, edição de Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, é uma fotobiografia agora publicada pela Porto Editora, editora que relançou a obra do autor. Ainda no mês de Maio, foram igualmente publicados os livros ilustrados O Silêncio da Água e Uma Luz Inesperada, que recuperam fragmentos ou textos de livros anteriores do autor e dão-lhes nova vida nestas duas edições especialmente pensadas para os mais jovens, com ilustrações de Yolanda Mosquera.

No ano em que se celebra o centenário do nascimento de José Saramago, com diversas iniciativas não só em Portugal mas um pouco por todo o mundo, a Porto Editora e a Fundação José Saramago apresentam este álbum biográfico que revisita lugares, pessoas, criações literárias e acontecimentos-chave da vida do único Prémio Nobel da Literatura de língua portuguesa, em 1998. Em parte, porque a sua obra tem uma dimensão universal e existencial que pode tocar a todos. Num breve prefácio, assinado pelo atual secretário-geral das Nações Unidas, que era então primeiro-ministro (quando Saramagou foi laureado com o Nobel), António Guterres afirma: «É importante continuar a revisitar a consciência ética presente na obra de José Saramago. Essa consciência mantém, hoje, a sua acuidade, tanto na condenação da exclusão e das desigualdades como na importante mensagem sobre a necessidade de “reivindicarmos o dever” de defender e fazer cumprir os direitos que a todos e cada um são conferidos. Esta fotobiografia contribuirá, confio, para que mais leitores relembrem ou descubram a exortação a que “os cidadãos comuns tomem a palavra e a iniciativa” – e não prescindam nunca desse direito.» (p. 7).

Neste álbum que celebra a vida e a obra de Saramago, os editores procuram estabelecer um vivo diálogo entre a voz de Saramago e um amplo repertório fotográfico parcialmente inédito. Estas imagens representam também um testemunho do tempo, da memória e dos espaços do autor. E, novamente nas palavras de António Guterres, «um retrato da história universal do último século» (p. 7). A confirmar a relevância desta fotobiografia, note-se que uma grande maioria dos textos presentes nesta obra (cerca de 80 %) são do próprio José Saramago, em que se incluem textos inéditos. Desta forma, as mais de 500 fotografias (muitas também inéditas) de Saramago, os seus nomes criam um diálogo visual com cartas, entradas de diário e outros textos. O presente reportório documental e fotográfico reúne assim cerca de 200 nomes-chave na trajetória de Saramago, arrumados em quatro secções que se interrelacionam: Espaços/lugares; Leituras/sentidos; Escritas/criações; Laços/pessoas. Porque este não é um livro para visitar uma só vez, as referências técnicas (indicações bibliográficas e os créditos das imagens) foram proteladas para o final do livro, de modo a não criar demasiado ruído (estético e verbal). Apenas algumas fotos mais relevantes são acompanhadas das legendas.

Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e amplamente reconhecida no estrangeiro.

Alejandro Garcia Schnetzer, graduado em Edição pela Universidade de Buenos Aires e de Barcelona, publica desde 2000 os seus trabalhos como autor, tradutor e diretor de coleções. Concebeu e desenvolveu obras de autores como Julio Cortázar, Eduardo Galeano, Clarice Lispector, Pablo Neruda, entre outros. De José Saramago editou os álbuns O Silêncio da Água, O Lagarto e Uma Luz Inesperada.

Ricardo Nunes Viel nasceu em São Paulo, em 1980. É jornalista e mestre pela Universidade de Salamanca. Colabora com diversas publicações, entre elas as revistas Piauí e os jornais Valor Económico e Globo. Trabalha desde 2013 na Fundação José Saramago, onde exerce o cargo de diretor de comunicação. É um dos organizadores do livro Com o mar por meio – uma amizade em cartas, volume que reúne a correspondência entre José Saramago e Jorge Amado, publicado em 2016 no Brasil e em Portugal. É também autor de Um País Levantado em Alegria – 20 anos do Prémio Nobel de Literatura (2018).

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.