A Akiara tem quatro novidades que chegaram às livrarias na primavera. Estes álbuns ilustrados, profundos e atuais, foram tralhados durante mais de um ano, tendo em comum a reflexão sobre o medo (em todos os seus matizes) e, no caso específico do Filas de sonhos, a crise dos refugiados. Depois de dois anos de pandemia e agora mais recentemente com uma nova guerra, cujas imagens nos chegam todos os dias, a Akiara mantém-se empenhada em criar livros cujo fito é ajudar os mais pequenos “a digerir tudo o que estão a viver”, ao mesmo tempo que os potenciam a trabalhar a capacidade de ultrapassar ou gerir esses receios.
Depois de já aqui termos apresentado o recentemente premidado Filas de sonhos com texto de Rita Sineiro, ilustrações de Laia Domènech, destes álbuns, o nosso destaque vai para o livro Porque temos medo?
Porque temos medo?, com texto de Fran Pintadera e ilustrações de Ana Sender, traduzido por Catarina Sacramento, é o segundo livro desta dupla. Depois do êxito de Porque choramos? (traduzido para 8 línguas para além do português, o castelhano e o catalão),com queAna Sender ganhou o Prémio Junceda de ilustração 2019, os autores tornam a enfrentar uma emoção primordial, transformando-a esteticamente com subtileza e gosto. Este belíssimo álbum (são 40 páginas, com dimensões generosas de 28 x 24 cm) apresenta um diálogo entre um pai e o filho Max.
«Papá, alguma vez tiveste medo?», pergunta o Max. “E o pai fala-lhe de sombras, de labirintos, de golpes, de sonhos e de armaduras.”
Em cada página dupla explora-se um aspeto diferente do medo (solidão, confusão, dúvida, bloqueio, isolamento, agressividade, insegurança, desconfiança, cobardia…). As ilustrações e as cores metafóricas, sendo que estes monstros são omnipresentes – ainda que disfarçados – nas páginas. Uma das imagens mais tenebrosamente belas do livro é a da guerra, onde se refere que “os verdadeiros monstros não vivem debaixo da nossa cama”. Destaque ainda para o ovo negro, acorrentado ao menino – um ovo que sofre metamorfoses ao longo do livro, conforme o menino aprende a lidar com os seus medos. Um livro com texto breve e poético, que abre interrogações ao mesmo tempo que oferece ferramentas para a criança se autoconhecer e aprender a explorar a força que existe nos seus medos.
Diz-nos a ilustradora que “sou uma grande colecionadora de medos. (…) Uma vez tive um medo que era parecido comigo, mas com os olhos maiores. Também tive um medo em forma de ovo preto, pesado e frágil, como o que desenhei neste conto.”
Conta-nos o autor que “Tal como acontece com este livro, eu também tive e tenho os meus medos. Se me dás licença, vou contar-te um deles: Durante algum tempo, quando acabava de escrever um conto ou um poema, achava que seria o último. Que talvez tivesse ficado sem ideias. Sem nada que contar.” Felizmente não foi o caso…
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