Oh, William!, de Elizabeth Strout, com tradução de Tânia Ganho, é o regresso desta autora, galardoada com o Prémio Pulitzer, à personagem de Lucy Barton –protagonista dos romances O meu nome é Lucy Barton e Tudo é possível. Toda a sua obra tem vindo a ser publicada pela Alfaguara Portugal.

Lucy Barton é agora uma mulher madura, que conquistou fama e sucesso enquanto escritora, e vive em Nova Iorque. Num momento de crise emocional, na vida de ambos, Lucy reaproxima-se do seu primeiro marido, pai das suas duas filhas, William, um homem tão cativante quanto difícil. Lucy ficou viúva recentemente, por seu lado William, com setenta e um anos, atravessa uma crise no seu terceiro casamento, enquanto procura descobrir um segredo do passado da mãe. É justamente a Lucy que William pede apoio e companhia, e juntos iniciam um périplo geográfico e emocional que os levará para longe de Nova Iorque.

Oh, William!, como o próprio título deixa perceber, está escrito de forma intimista e coloquial. Ainda que a narradora não interpele diretamente o leitor, é como se a ouvíssemos desmontar a sua vida emocional e familiar, numa narrativa que recua constantemente de modo a iluminar o presente. Ao evocar o passado de ambos — os tempos da faculdade, o nascimento das filhas, a dissolução do casamento e as vidas refeitas com novos companheiros —, Strout compõe o retrato de uma convivência de décadas, tão conturbada quanto cúmplice, explicando sobretudo como o fim de um casamento não significa por força o final de um vínculo, independentemente de o amor persistir.

«Enquanto percorríamos a estrada, de repente tive uma recordação visceral de como o casamento foi, de vez em quando, uma coisa hedionda para mim, ao longo daqueles anos que passei com o William: uma familiaridade tão densa que enchia o espaço, a garganta praticamente entupida com o conhecimento do outro» (p. 131).

A estratégia irreverente desta narradora, que aparenta predispor-se a falar sobre o ex-marido, mas fala sobretudo de si, conduz-nos numa poderosa reflexão sobre o casamento, a família, o amor, a perda, a ascensão social e os segredos de família. Este romance confirma Elizabeth Strout como uma das escritoras mais empolgantes da atualidade, cuja escrita extremamente subtil interliga o gesto mais banal com a profundidade psicológica e a reflexão em torno da existência e das relações humanas.

Elizabeth Strout nascida em 1956 em Portland, nos Estados Unidos da América, é uma das romancistas americanas mais aclamadas da atualidade. A autora obteve sucesso mundial com Olive Kitteridge (adaptado a uma fabulosa mini-série com a Frances McDormand), obra que lhe valeu um Pulitzer. Foi também finalista dos prémios PEN/Faulkner Award, Orange Prize e International Dublin Literary Award, no Reino Unido.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.