O Problema Final é o regresso ao romance de Arturo Pérez-Reverte.

Digo, desde já, que não sou fã do autor. Isto é, não é dos escritores que sigo religiosamente (por alguma circunstância estranha, pois sei que tem um séquito de fãs). No entanto, e é isso que interessa, estou a gostar muito desta leitura.

Aclamado pela crítica e pelo público, O Problema Final foi considerado, pelo ABC, «Um livro perfeito, escrito com um bisturi.» Segundo a Zenda, «Reverte acaba de escrever (de novo) um clássico». E, para o El Mundo, «O escritor é quem mais se diverte [e] aborda o crime como uma das Belas Artes.»

Traduzido por Cristina Rodriguez e Artur Guerra, O Problema Final já está nas livrarias, numa edição de capa dura da LeYa/ ASA.

Um romance-enigma fascinante e invulgar que tem a particularidade de apelar sobretudo aos leitores de policiais em particular e aos bons leitores em geral.

A ação desenrola-se em junho de 1960, na pequena ilha de Utakos. Nesta ilha paradisíaca situada ao largo de Corfu, nove pessoas ficam isoladas devido a uma violenta tempestade. Numa certa manhã, Edith Mander, uma turista inglesa discreta, aparece morta no pavilhão da praia, no que aparenta ser um suicídio à porta fechada, num espaço onde nunca ninguém entrou.

Cabe ao narrador, Hopalong Basil, um ator sobejamente conhecido por interpretar o mais célebre detetive de todos os tempos – pois fez de Sherlock Holmes em cerca de 15 filmes, e para muitos ainda hoje ele é o verdadeiro Sherlock -, desvendar se de facto o óbvio é o autêntico.

O livro está cheio de ironia e de piscares de olhos, acerca da literatura, da representação, do real, da natureza do bom policial (em contraste com o romance negro), etc.

Neste problema final as referências multiplicam-se e as possibilidades são infindas, até mesmo a de, afinal, ser o próprio narrador o culpado da série de crimes que se sucedem ao longo da intriga.

“Na luta entre o bem e o mal, os romances de Conan Doyle respiravam uma candura inteligente. Neles dava-se um pacto entre o autor e o leitor, que de algum modo renunciava à sua realidade de adulto e ao seu sentido crítico.” (p. 73)

Um romance-problema, que é uma homenagem ao romance policial à moda antiga (talvez em jeito de contraponto aos novos thrillers que proliferam) e sobretudo a Sherlock e ao seu método dedutivo, uma ode à literatura eivada de reflexividade e autorreferencialidade, uma narrativa que pede constantemente para sublinhar e assinalar passagens e frases emblemáticas, e que ironiza permanentemente, sobretudo sobre o misterioso sexo feminino: “vocês, os romancistas, dão demasiada importância às mulheres, convertendo-as em enigmas fascinantes. Se cada uma delas lhes custasse um milhão de dólares por divórcio, vê-las-iam de uma maneira mais vulgar.” (p. 73)

Arturo Pérez-Reverte nasceu em Cartagena, Espanha, em 1951. Foi repórter de guerra durante vinte e um anos. Com mais de vinte milhões de leitores em todo o mundo, é autor de uma extensa e premiada obra, traduzida para mais de 40 línguas e com frequência adaptada ao cinema e à televisão. Em 2017, foi premiado com o Prix Litteraire Jacques Audiberti. Atualmente, divide a sua vida entre a literatura, o mar e a navegação. É membro da Real Academia Espanhola.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.