O Olho do Mundo, primeiro volume de A Roda do Tempo, série épica de Robert Jordan, foi reeditado em 2019 – seguido meses depois pelo segundo volume, pelo terceiro no ano passado, e o quarto, A Sombra Alastra, publicado este ano.
A Roda do Tempo representa a segunda série de fantasia de culto mais vendida de sempre (O Senhor dos Anéis continua por destronar), com mais de 80 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, o que talvez se venha a alterar nos próximos tempos, com a estreia da nova série co-produzida pela Amazon Studios e a Sony Pictures. A adaptação da saga, inicialmente prevista para cinema, estreia em exclusivo na Amazon Prime Video, dia 19 de Novembro, com a segunda temporada já aprovada, destacando-se, num elenco composto maioritariamente por jovens actores, Rosamund Pike no papel de Moiraine. Num ano em que estreou, há semanas, a série Fundação baseada na trilogia de Isaac Asimov, e em que se prepara nova adaptação, agora a série televisiva, de O Senhor dos Anéis, esta adaptação dos livros The Wheel of Time pode bem ser um dos grandes acontecimentos do ano, sobretudo para a legião de fãs deste universo repartido em 14 volumes, com 80 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.
O primeiro volume da saga, com 796 páginas, centra-se em Rand al’Thor, um jovem que vê o seu mundo ser virado do avesso, forçado a pôr em causa as crenças a que se agarrava na sua pacata existência de pastor, criado pelo pai, quando a sua aldeia é praticamente destruída por criaturas que só conhecia de histórias. Com indícios sempre subtis, numa narrativa cuidada, ainda que sem lirismos, a intriga é trabalhada progressiva e compassadamente, revelando ao leitor como é bem possível que o ataque à pacata aldeia de Dois Rios tenha sido, na verdade, uma missão para matar Rand e outros dois amigos, que têm partilhado sonhos inquietantes e idênticos. O mais notável neste livro é a forma como a narrativa, na terceira pessoa, acompanha sempre a perspectiva de Rand, o que significa que o próprio leitor vai desvendando este universo fantástico à medida que o próprio protagonista (que desconhece ser o herói) vivencia os eventos descritos e vai descobrindo um novo mundo, na sua viagem de sobrevivência até Rhuidean, guiado por uma feiticeira. Só no capítulo XX (pág. 306), portanto já bem a meio do livro, é que a perspectiva muda, justamente quando o grupo se separa, consoante acompanhamos os outros membros.
O ambiente da saga evoca o medieval, pelo modo de vida descrito, numa realidade próxima da humana (sem anões ou elfos, em que as figuras inumanas são sobretudo as maléficas), onde a magia existe, ainda que vista com temor e desconfiança, circunscrita sobretudo às mulheres. Curiosamente, a magia nos homens pode ser tão poderosa como a das mulheres, mas é mais facilmente descontrolável, resultando em loucura e mortandade. O mal está aliás incorporado numa figura masculina: Ba’alzamon.
Robert Jordan entrelaça nesta saga épica vários universos distintos, dos contos de fadas aos mitos celtas, criando toda uma mitologia que bebe da cultura e filosofia da Europa e da Ásia, e muito especialmente da natureza cíclica do tempo do Budismo e do Hinduísmo, da destruição e renovação ao longo das eras.
A Bertrand Editora já adquiriu os direitos para os primeiros seis dos 14 volumes que perfazem a série A Roda do Tempo.
«A Roda do Tempo gira e as eras vêm e vão e deixam recordações que se transformam em lenda. A lenda dissipa-se, torna-se mito, e até o mito é esquecido, muito antes que a era que o fez nascer regresse novamente. Numa era que alguns chamaram a Terceira, uma era que há de vir, uma era que passou há muito, começou a levantar-se um vento nas montanhas da Bruma. Esse vento não foi o início pois não existem princípios nem fins no eterno girar da Roda do Tempo. Mas foi um início.» (p. 19)
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