O Livro dos Prazeres Inúteis, de Dan Kieran & Tom Hodgkinson, foi agora reeditado pela Quetzal, com tradução de Vasco Teles de Menezes. Um livro de bolso que constitui um guia de desaceleração para os dias agitados em que vivemos. «Os Prazeres» vêm listados, sem nenhuma ordem, ao longo de 100 entradas, alguns descritos em breves linhas, outros ao longo de uma a duas páginas.

«A ociosidade forçada é um prazer raro.» (p. 22)

Num inequívoco registo literário, com episódios ocasionais imbuídos de laivos ficcionais, este pequeno livro representa o antídoto perfeito para situações de stress e pessoas desafiantes. Neste tratado da «arte de não fazer nada» (p. 153) não falta, inclusivamente, alguma sátira e boa disposição, como quando se defende o direito ao refúgio da casa de banho como espaço de criação e meditação: «A sanita é o eremitério do homem no reino doméstico.» (p. 51)

Escreve-nos Tom Hodgkinson, na «Introdução», que o objetivo deste livro, além de relembrar pequenos prazeres contidos nos dias, que muitas vezes esquecemos com a labuta e azáfama de correr para lado nenhum, é também ressalvar como «as melhores coisas da vida são de graça» (p. 9). Este libelo a favor da rebelião contra a sociedade do trabalho e do consumo aponta ainda como estes prazeres inúteis, quase sempre inteiramente gratuitos, podem ainda ajudar a ligar-nos à natureza.

Seja na observação de estrelas, nuvens ou folhas cadentes de outono; a deambular pela cidade, optando até por um caminho mais longo; simplesmente a mirar pela janela, a escrever cartas ou a dobrar papel, este livro elenca uma centena de formas diferentes de nos reconectarmos connosco, de fazer uma pausa e deixar os pensamentos correrem, enquanto a nossa mente encontra paz e conforto na quietude de pequenos gestos que, possivelmente, irão exasperar aqueles que nos rodeiam. 

Este compêndio é escrito a várias mãos. Dos 13 colaboradores da Idler (uma revista em campanha permanente e exclusiva contra o trabalho e a ética do trabalho), destacam-se o editor Tom Hodgkinson e Dan Kieran, editor-assistente.

print
Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.