O Ladrão de Cadernos, do autor italiano Gianni Solla, publicado pela Dom Quixote, é uma das novidades do ano, com tradução de Ana Maria Pereirinha. E é uma belíssima leitura, envolvente, melancólico, sobriamente sensível.

“Perguntei-me o que iria mudar com o fim da guerra. (…)

A mudança era uma coisa difícil de sentir, mas, tal como o ar, não se podia deixar de a respirar.” (p. 179)

Este é o primeiro romance do autor, mas institui-se como uma voz a ter em conta, pois é uma daquelas narrativas que tem o tom certo para cativar o leitor logo nas primeiras linhas… Que tom é esse? É difícil dizer. Talvez uma mistura de melancolia e de ternura, que nos remete para a infância sofrida de Davide, um guardador de porcos cujo cheiro o denuncia, além da perna manca que o aparta dos demais. Davide passa os dias, e também algumas noites, com os porcos que guarda. Apesar de isso lhe valer reprimendas do pai – um fascista bastante violento, embora leve uma vida santa, evitando praguejar e beber –, que lhe diz que nunca se dá nomes aos animais que matamos para comer… É uma criança decidida a aprender a ler e a escrever dê por onde der… E é Teresa, a mesma rapariga que um dia o defendeu de ser humilhado pelos outros rapazes, que começa a ensiná-lo.

A acção passa-se num pequeno lugarejo: Tora e Piccilli (a norte de Caserta), em setembro de 1942. A Itália vive sob o regime de Mussolini, e até em lugares remotos como Tora chega uma leva de judeus, mais precisamente trinta e seis judeus vindos de Nápoles, enviados para a aldeia pelas autoridades fascistas. Entre eles, vem um jovem de beleza insólita, que parece deixar Davide entre o fascinado e o enamorado.

Gianni Solla nasceu em 1974, em Nápoles, onde vive.

É autor de contos, peças de teatro e romances, entre os quais O Ladrão de Cadernos, que está a ser traduzido em muitas línguas.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.