Elogio da Literatura, com o subtítulo A Imaginação Cultivada, de Northrop Frye, foi publicado pelas Edições 70.

Este livro reúne seis conversas de rádio de meia hora cada, concebidas para a Canadian Broadcasting Corporation. A série foi designda The Massey Lectures, uma vez que as palestras foram em honra de Vincent Massey, antigo Governador-geral.

Originalmente publicadas sob o título Educated Imagination e dirigidas a todos os «consumidores de literatura», o conjunto de palestras que formam este volume explora a eterna questão do valor e do uso da literatura no nosso tempo. Cada palestra toma o seu título emprestado a partir de uma obra de literatura, um poema, etc.

Northrop Frye era então professor de literatura inglesa há 25 anos. E as perguntas com que abre a primeira palestra são justamente: Para que serve o estudo da literatura? Para que serve a função de professor, ou de crítico, de literatura?

Frye toma a imaginação como ponto de partida da literatura. Afirma o autor que toda a arte começa com aquilo que imaginamos, que construímos na nossa mente, e não com a simples visão do real.

Daí parte para o papel das imagens, nomeadamente da metáfora, na linguagem poética. Na literatura, na verdade, não há nada de novo, mas tudo pode ser reconfigurado de modo a parecer novo.

As propostas de Frye para o ensino da literatura incluem uma ênfase na poesia, de que nos dá vários exemplos, mas também o estudo da Bíblia (desde que o mestre tenha um sentido de estrutura literária bem desenvolvido) assim como dos clássicos gregos e latinos. O autor equipara assim a importância dos mitos bíblicos aos da mitologia clássica, e advoga que só na Antiguidade Clássica se pode perceber a estrutura das grandes formas literárias, com o estudo do romance e da ironia, da tragédia e da comédia – sendo estas duas últimas reservadas para o ensino secundário, por serem nitidamente mais difíceis, segundo o autor.

Segundo Frye, a literatura “continua a fazer o mesmo trabalho que a mitologia fez”, com a diferença de “preencher as suas enormes formas nebulosas com luzes mais nítidas e sombras mais profundas” (pág. 53).

A literatura não só é o caminho para cultivarmos a imaginação, como a sua linguagem é a da imaginação. Por isso o estudo da literatura serve sobretudo como um ginásio da imaginação. O mundo real e o imaginativo são distintos, sendo que, para Frye, este último é o mais importante. Talvez por ser através do mundo imaginativo, configurado pela literatura, que chegamos ao conhecimento da linguagem da natureza humana.

Northrop Frye (1912-1991) é considerado um dos críticos literários mais influentes do século XX. Nasceu no Quebeque, formou-se em Toronto e terminou a carreira como professor emérito do Victoria College. Foi membro da Academia Britânica e da Academia Americana para as Artes e Letras. Harold Bloom apelidou-o como «o maior estudioso da literatura ocidental». Pelas Edições 70, está igualmente publicado O Código dos Códigos – A Bíblia e a Literatura.

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Paulo Nóbrega Serra
Written by Paulo Nóbrega Serra
Sou doutorado em Literatura com a tese «O realismo mágico na obra de Lídia Jorge, João de Melo e Hélia Correia», defendida em Junho de 2013. Mestre em Literatura Comparada e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, autor da obra O Realismo Mágico na Literatura Portuguesa: O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge e O Meu Mundo Não É Deste Reino, de João de Melo, fruto da minha tese de mestrado. Tenho ainda três pequenas biografias publicadas na colecção Chamo-me: Agostinho da Silva, Eugénio de Andrade e D. Dinis. Colaboro com o suplemento Cultura.Sul e com o Postal do Algarve (distribuídos com o Expresso no Algarve e disponíveis online), e tenho publicado vários artigos e capítulos na área dos estudos literários. Trabalhei como professor do ensino público de 2003 a 2013 e ministrei formações. De Agosto de 2014 a Setembro de 2017, fui Docente do Instituto Camões em Gaborone na Universidade do Botsuana e na SADC, sendo o responsável pelo Departamento de Português da Universidade e ministrei cursos livres de língua portuguesa a adultos. Realizei um Mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas e uma pós-graduação em Ensino Especial. Vivi entre 2017 e Janeiro de 2020 na cidade da Beira, Moçambique, onde coordenei o Centro Cultural Português, do Camões, dois Centros de Língua Portuguesa, nas Universidades da Beira e de Quelimane. Fui docente na Universidade Pedagógica da Beira, onde leccionava Didáctica do Português a futuros professores. Resido agora em Díli, onde trabalho como Agente de Cooperação e lecciono na UNTL disciplinas como Leitura Orientada e Didáctica da Literatura. Ler é a minha vida e espero continuar a espalhar as chamas desta paixão entre os leitores amigos que por aqui passam.