Casa de Dia, Casa de Noite, de Olga Tokarczuk, autora publicada pela Cavalo de Ferro, é apresentado como o primeiro romance-constelação da escritora. O livro, traduzido do original polaco por Teresa Fernandes Swiatkiewicz, foi vencedor do Prémio Günter Grass e do Prémio Nike ainda antes de a autora receber o Prémio Nobel de Literatura de 2018 (concedido em 2019).
Romance surpreendente e original, cuja prosa se afasta definitivamente da narrativa convencional, nesta constelação de textos, que reflectem a natureza da prosa breve e do ensaio, reúnem-se histórias centradas na vida na pequena cidade de Nowa Ruda, situada no coração da Europa. Um território de passagem e de fronteiras instáveis, onde povos, guerras e regimes se sucedem, e continua bem presente a sombra da Segunda Guerra ocorrida há menos de vinte anos. A narradora, recém-chegada à cidade, conta com a ajuda de Marta, velha e sábia vizinha, com quem cria uma relação particular, ao ponto de os pensamentos de uma chegarem a irromper na mente da outra.
“Eu disse a Marta que cada um de nós tinha duas casas – uma concreta, situada no tempo e no espaço, e outra inacabada, sem morada, sem hipótese de imortalização nos projectos arquitectónicos. E que vivíamos simultaneamente nas duas.” (p. 242)
Mitos, sonhos, episódios anedóticos, histórias eivadas de um certo misticismo, que tecem ténues ligações entre si, em que as temáticas da dualidade e do duplo estão recorrentemente presentes. Algumas dessas histórias estendem-se, semelhantes a contos, como a vida de Santa Kümmernis, a Santa Aflita, mulher que se transforma miraculosamente em homem, ou do monge Johann que escreverá sobre a vida da Santa enquanto ele próprio se debate com a verdadeira natureza do seu sexo.
Olga Tokarczuk, distinguida com o Nobel pela sua «imaginação narrativa, que com uma paixão enciclopédica representa o cruzamento de fronteiras como forma de vida», é conhecida por se inspirar em mapas e escrever em torno das dicotomias natureza/cultura, razão/loucura, masculino/feminino.
“Os sonhos faziam sempre sentido, nunca se enganavam, era o mundo real que não estava à altura dos sonhos.” (p. 49)
Olga Tokarczuk nasceu em Sulechów, uma pequena cidade polaca, em 1962. Formada em Psicologia, publicou o seu primeiro livro em 1989. Recebeu por duas vezes o mais importante prémio literário do seu país, o Prémio Nike; em 2018, foi finalista do Prémio Fémina Estrangeiro e vencedora do Prémio Internacional Man Booker.
Boa noite!
Sou a tradutora de Olga Tokarczuk e sigo as suas publicações, que muito aprecio. Gostaria não só de o felicitar pelos textos dedicados aos livros de OT mas também de lhe dizer que citei o seu blogue num artigo que saiu no Expresso, em reconhecimento pelo seu trabalho de crítica literária. Aliás, a própria OT também deixou em Portugal um elogio público aos blogues literários que divulgam a sua obra. Bem haja!
Teresa, deixa-me muito lisonjeado e com a responsabilidade acrescida de ler os livros que ainda tenho pendentes da Olga…
Se me puder dizer em que dia saiu esse artigo no Expresso gostaria muito de poder ler/ver.
Grato pelo seu trabalho exímio e dedicado. Sei que não é fácil os tradutores, assim como quem escreve sobre livros, serem reconhecidos.
Já encontrei! Muito obrigado!!!