Olive Kitteridge, publicado originalmente em 2008, e entre nós o ano passado, obteve sucesso mundial, um Pulitzer, entre outros prémios, e foi adaptado a série com uma excelente interpretação de Frances McDormand. A segunda vida de Olive Kitteridge, de Elizabeth Strout, retoma a vida de Olive mais ou menos no momento em que a deixámos no livro anterior.
Olive perdeu Henry, o marido, há cerca de dois anos, e apesar de ter sentido a vida desvanecer-se, incapaz de se reconciliar com o único filho, descobre que afinal ainda tem muita vida pela frente, volta a apaixonar-se e casa uma segunda vez com Jack.
«Fazia cinco anos que Jack e Olive estavam juntos; Jack tinha setenta e nove anos e Olive, setenta e oito. Nos primeiros meses, dormiram abraçados. Nenhum deles dormia abraçado a uma pessoa na cama a noite inteira havia muitos anos. Quando Jack conseguira escapulir-se com Elaine, abraçavam-se mais ou menos à noite, no hotel onde estivessem, mas não era a mesma coisa que ele e Olive fizeram nos seus primeiros meses de relação. Olive punha uma perna em cima das de Jack, pousava a cabeça no peito dele e, durante a noite, mudavam de posição, mas sempre abraçados, e Jack pensava nos seus corpos grandes e velhos, naufragados, atirados para a praia, e na maneira como se agarravam com unhas e dentes à vida e um ao outro.» (p. 182)
Em Crosby, uma povoação costeira no Maine, todos conhecem Olive Kitteridge, em tempos professora de Matemática do liceu. Agora com pouco mais de setenta anos, Olive continua a ser uma mulher grande, e volumosa, intimidante e com uma honestidade desarmante. Jack aceita-a como a força da natureza que é, mas faz um pacto: «- Meu Deus, és uma mulher difícil, Olive. És uma mulher tão difícil, mas que se lixe tudo, amo-te. Por isso, se não te importas, Olive, talvez pudesses ser um bocadinho menos olivesca comigo, mesmo que isso signifique seres um pouco mais olivesca com as outras pessoas. Porque eu te amo e não nos resta muito tempo.» (p. 250)
Olive Kitteridge e A segunda vida de Olive Kitteridge foram publicados pela Alfaguara, com tradução de Tânia Ganho. Mais do que romances constituem-se como colectâneas de vidas tocadas por Olive, de vizinhos ou ex-alunos, que aliás tem uma certa propensão para entrar na vida das pessoas em momentos definidores. As histórias centradas em Olive alternam assim com narrativas em que ela é meramente figurante; por vezes, tão somente uma ex-aluna que nunca se esqueceu de algo que Olive disse numa aula. O que têm em comum estas vidas tão díspares? O olhar arguto e subtil, mais descritivo do que narrativo, a incidir em pequenos gestos e acções reveladores de histórias de vidas tocadas pela solidão: «E concluiu, então, que nunca devíamos encarar de ânimo leve a solidão que as pessoas sentiam no seu âmago, que as escolhas que faziam para evitarem essa escuridão escancarada eram escolhas que exigiam respeito» (p. 232).
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