A Arte de Bem Descansar, da psicóloga Claudia Hammond, publicado pela Ideias de Ler (Porto Editora), com tradução de Joana Ferreira da Silva, revela os segredos do descanso. Uma atividade vital, e não um luxo ou simples ócio.
A partir de um estudo sobre os hábitos de repouso de mais de 18 000 pessoas em 135 países, esta psicóloga britânica fez uma descoberta relevante, ainda que talvez não seja completa surpresa: a população mundial sofre de um défice de descanso. As práticas laborais, um estilo de vida que promove um ritmo intenso de trabalho (quando hoje já nem se justifica trabalhar o mesmo número de horas diárias do que noutros tempos), a hiperatividade e a tecnologia disponível (assim como a necessidade de estar permanentemente ligado) são os fatores que mais contribuem para essa condição e funcionam simultaneamente como causa e consequência. Ao que acresce o cansaço poder ter um impacto significativo nas capacidades cognitivas. A autora distingue os conceitos de sono e de descanso, e identifica as 10 atividades consideradas como as mais repousantes. Em contagem decrescente, a autora dedica cerca de 20 páginas a cada uma das atividades, começando pela número 10, Mindfulness. Segue-se Ver televisão, Sonhar acordado, Um belo banho de água quente, Uma boa caminhada, Não fazer nada de especial (o que não deixa de requerer alguma concentração e esforço), Ouvir música, Quero estar sozinho e, a número 2, Estar no meio da natureza.
A atividade que aparece no topo da lista é, imagine-se, a leitura.
Embora possamos ler sentados no sofá ou deitados, a leitura é um trabalho que efetivamente exige “trabalho cognitivo a vários níveis diferentes” (p. 216).
“Lemos as letras. Formamos as palavras. Tiramos sentido dessas palavras. Relacionamos esse sentido com o que já lemos antes. Recorremos às nossas próprias memórias. Criamos imagens nas nossas mentes. Mentalmente simulamos a ação, as paisagens e os sons das cenas. Entretanto, fazemos uso daquilo que os psicólogos chamam ‘teoria da mente’ para habitar as mentes das personagens e entendermos as suas motivações, imaginar os seus pensamentos, sentir os seus sentimentos.” (p. 216)
A autora refere um estudo realizado por Victor Nell, que se verificou que a leitura consegue paradoxalmente ser uma atividade repousante e em simultâneo provocar excitação.
A autora indica ainda um inquérito aplicado no Reino Unido em que em cinco mil pessoas, 38 % que via televisão na cama antes de dormir tinha um sono pior do que aqueles que leem antes de deitar.
Apesar de muitas vezes se dizer que a leitura implica esforço mental, há estudos que indicam que a hormona cortisol do stress efetivamente reduz com uma sessão de leitura, mais ainda quando comparada com atividades como tai chi. Talvez por isso tantas pessoas se queixam que adormecem assim que começam a ler…
A psicóloga Claudia Hammond indica estudos que evidenciaram como aquilo que lemos provoca emoções tão reais para o nosso corpo e mente quanto aquilo que vivemos (p. 223).
Afirma-se que a “leitura facilita a divagação da mente, providenciando o ponto de partida perfeito para sonhar acordado – estimulando-nos a voar para longe dos pensamentos habituais, não necessariamente para a história que estamos a ler”, mas para um sítio completamente novo, alheio às nossas memórias (p. 227). A rede neural ativada no cérebro com a leitura é, curiosamente, a mesma de quando divagamos (ou seja, não pensamos em nada concreto), mas enquanto lemos estamos ao mesmo tempo ocupados em dar um sentido à história.
É como se a mente viajasse em dois sentidos distintos com a leitura: “Distrai-nos, mas também nos põe frente a frente connosco próprios, permitindo-nos viajar mentalmente até ao passado e até ao futuro. Tanto podemos usar a leitura para bloquear a nossa autoconsciência como para a reforçar.” (p. 229) Inclusivamente a leitura é uma ótima companhia, e pode anular o sentimento de solidão.
Embora haja quem leia para fugir aos outros, refere-se ainda que há diversa investigação que tenta perceber como a leitura melhora os níveis de empatia nas relações humanas.
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