Uma Luz na Noite Escura, de João Carlos Melo, publicado pela Bertrand Editora, é o terceiro livro do autor e médico psiquiatra.
Numa linguagem simples, intimista, em que interpela diretamente o leitor, João Carlos Melo colige várias histórias inspiradoras de pessoas com uma capacidade incomum: estar absolutamente sozinhas sem sentir solidão. Confluem aqui histórias tão díspares de figuras nacionais como Genuíno Madruga, que deu a volta ao mundo sozinho duas vezes, ou a de João Garcia, que subiu ao topo do monte Evereste, um dos lugares mais inóspitos e perigosos do planeta. Ou Michael Collins, pouco conhecido para a posteridade, que ficou a orbitar a Lua, a aguardar o regresso de Neil Armstrong.
Numa sociedade como a atual, que privilegia o frenesi das interações e do máximo de ocupações, num tempo em que a própria privacidade se dissipa nos escaparates das redes sociais, impõe-se a questão de como é que se pode considerar a solidão como o mal do século. Solidão esta que, nos últimos 2 anos, foi intensificada com a epidemia da COVID-19 e que nos obrigou a repensar a forma como nos relacionamos com os outros porque, acima de tudo, o ser humano é um animal social. O estranho é, aliás, ouvir alguém dizer que viveu o confinamento de forma tranquila, ocupada, sem se sentir só.
O autor faz uma leitura e reflexão atual e presente em torno da solidão, distinguindo muito bem o estar só do sentimento de se estar sozinho: «entendo a solidão como um estado mental dominado pelo sentimento doloroso de não pertencermos ao mundo que nos rodeia, de não haver lugar no mundo para nós, de estarmos desligados (ou desconectados, uma palavra talvez mais forte) dos outros» (p. 67).
À exceção do caso de Genuíno Madruga, apresentado no primeiro capítulo, com quem o autor ter-se-á cruzado, casualmente, e outro caso de uma senhora que conheceu no decurso de uma sessão de psicoterapia de grupo, o livro peca por assentar quase exclusivamente em leituras. Não há depoimentos, dados, casos de estudo, mas tão somente uma espécie de revisão bibliográfica, entre livros e artigos de publicações periódicas, onde se confrontam entidades públicas com algumas histórias menos conhecidas. João Carlos Melo é médico psiquiatra, psicoterapeuta, grupanalista e membro titular didata da Sociedade Portuguesa de Grupanálise e Psicoterapia Analítica de Grupo (SPGPAG). É assistente graduado do Hospital Fernando Fonseca, onde exerce as funções de coordenador do Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria.
Leave a Comment