Ainda é cedo para tecer grandes considerações mas é um livro para se ir lendo devagar e para ir reflectindo, relendo.
Apesar de ter toda a obra do autor – inclusive alguns que ainda não estão traduzidos – o único que lera dele foi justamente o Uma história da leitura – a propósito de um concurso público que requeria a leitura do livro para a realização das provas.
O autor baseia-se muito na Divina Comédia, retratando a sua história, citando passagens, relacionando o seu pensamento com a própria travessia de Dante. Talvez a chegada de Dante ao Paraíso seja a metáfora da nossa chegada ao conhecimento – pois a curiosidade e as constantes interrogações – modo constante da linguagem e do pensamento desde crianças – impelem o ser humano justamente para os píncaros do conhecimento.
Neste momento da leitura ainda estou um pouco perdido pela Divina Comédia mas começamos já a adentrar pela filosofia e por outros grandes teólogos percursores da mesma, como Agostinho e Tomás de Aquino.
Uma das ideias mais interessantes que Manguel defende é, aliás, mais do que a necessidade de voltarmos várias vezes a um clássico para melhor o perceber e desvelar um pouco mais do seu conhecimento imenso e nunca totalmente acessível, ou a forma como o escritor está sempre aquém do leitor, pois a linguagem nunca consegue exprimir totalmente o ideal nem a escrita é tão rica como o conhecimento que o leitor extrai e descortina da leitura, a ideia de que há sempre uma obra da literatura que consegue conter em si todo o nosso pensamento, todo o nosso sentir, toda a nossa história, como se tudo aquilo que alguma vez pensámos estivesse lá contido, e sempre enriquecido numa nova leitura. É curioso pois eu senti muito isso quando li Proust – é quase como se fôssemos nós os coautores da obra, como se a cada passagem houvesse uma faúlha de inspiração ou de reconhecimento – sim, eu já senti isto, eu já pensei isto mesmo. Para Manguel essa obra de referência que nos define é, naturalmente, a Divina Comédia.
Pensei sempre que o livro era uma história mais linear da curiosidade e da busca do conhecimento pelo homem mas agora percebo que a tradução do título (no original simplesmente Curious) é que me induziu em erro, aproximando este livro de Uma história da leitura. Contudo estou a gostar da leitura, se bem que feita de forma mais pausada, onde inclusivamente o autor se coloca a nu perante os seus leitores, onde fala abertamente de si e a certa altura refere que tem um parceiro (eu naturalmente desconhecia a orientação sexual do senhor, se bem que também não retira ou acrescenta nada à pessoa, naturalmente. Ou talvez acrescente, dada a sensibilidade como trata de temas tão díspares)
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