Requiem para o Navegador Solitário, de Luís Cardoso, publicado em 2007 (Publicações Dom Quixote), constitui uma crítica velada ao colonialismo por um autor em situação de diáspora, numa espécie de exílio autoimposto.
Este é um dos poucos livros do autor, dos publicados pela Dom Quixote, que ainda se pode encontrar à venda – no Natal comprei uns 3 para oferecer.
Esta obra cria uma crítica sociopolítica velada, o que resulta numa tessitura narrativa complexa, aberta a múltiplas leituras, e com recurso à alegoria, que plurivocaliza o romance. Alegoria aqui configurada na protagonista Catarina, personagem híbrida que simboliza um encontro de culturas, oferecida em casamento como um objeto (equiparada à gata de jade), enviada para um país que desconhece no qual ascende socialmente, mas onde é também alvo de críticas, tendo como missão resgatar a grandeza passada de uma fazenda de café. Uma mulher abandonada pelo noivo prometido e explorada sexualmente, sendo o seu corpo uma metáfora dos abusos do colonialismo, e que nos escreve as suas memórias, ou diário de bordo, num veleiro.
Catarina, jovem mulher com os olhos fitos no mar numa espera saudosa de um navegador que há de surgir, representa a ânsia portuguesa de partir e descobrir mundo, e, paradoxalmente, a deriva de Timor como colónia, à espera de uma governação que nunca chega. Esta obra é perpassada por um sentimento de deriva configurado de diversas formas: o esquecimento a que Timor é votado; a constante alusão ao território timorense como uma espécie de colónia penal, evidenciado por uma galeria de personagens deslocadas; a neutralidade (parcial) de Portugal durante a II Guerra Mundial, na narração de outro horizonte omnipresente da narrativa que se concretiza no final do livro, a invasão de Timor pelos japoneses.
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