Outro livro do autor de Memórias de um espírito que nos leva de regresso à sua ilha, de onde aliás saiu aos 18 anos – conta agora com 70 – e apenas regressou à Boa Vista em 2005. Esse saudosismo está aliás bem patente neste livro cuja estrutura por vezes circular se desenrola como um rosário de memórias, de forma contínua e ininterrupta, sem capítulos ou qualquer divisão entre o texto que abrange cerca de 300 páginas de rememorações a que por vezes se regressa com alguma insistência.
O narrador está lá mas esconde-se por detrás de uma galeria de personagens que são consideradas família, mesmo quando não há qualquer laço de sangue. Apenas duas ou três vezes percebemos que o narrador é acusado de preguiçoso, sempre perdido nos livros e na escrita, o que corrobora a ideia de este livro como uma elegia do eterno retorno ao que se deixou e a que o próprio autor diz ter medo de tentar reencontrar, pois compreende que o passado é algo que não se recupera nem se revive.
Acompanhamos assim uma descrição exaustiva da ilha, ou do que a ilha era durante a infância do narrador, onde a sua história se desdobra mediante várias estórias de diversas personagens, com laivos do humor característico de outras obras do autor, em que um mosaico de superstições, religião, crendice, gastronomia, hábitos e costumes, actividades, é desfiado de forma ligeira e envolvente, como uma história contada por um avô à volta da fogueira, sobre fantasmas que rondam uma acácia e emigrantes que partiram para a terra das oportunidades que nunca deixaram a terra mas a ela nunca regressam, isto é, a verdadeira definição do que é ser insular… saudoso… lusófono… português…
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