O último sonho é o primeiro livro de histórias de Pedro Almodóvar, uma das personalidades mais icónicas da cultura europeia, publicado pela Alfaguara, com tradução de Helena Pitta.
Apresentado pelo próprio como uma «autobiografia fragmentada», este volume reúne memórias e ficções que nos apresentam, de forma íntima, o universo de Pedro Almodóvar e que revelam a sua paixão secreta pela escrita.
«Nunca tive um diário e, quando tentei escrevê-lo, não passei da segunda página; no entanto, este livro implica a minha primeira contradição. É o que existe de mais parecido com uma autobiografia fragmentada, incompleta e um pouco críptica. Contudo, creio que o leitor acabará por obter muita informação sobre mim enquanto cineasta e efabulador (ou escritor) e sobre o modo como a minha vida leva uma coisa a misturar-se com outras. (…) Esta coleção de histórias (…) demonstra a relação estreita entre o que escrevo, o que filmo e o que vivo.»
Este seu primeiro livro de histórias reúne doze narrativas, escritas ao longo de décadas, desde os anos 1960 até à atualidade. Tratam-se, sobretudo, de contos, ora divertidos, ora insólitos, com personagens que poderiam ter saído de alguns dos seus filmes: de padres a atrizes de fotonovelas porno, de travestis a homens sedentos de desejo.
“Esta é a primeira vez que escrevo sobre o «agora», ou seja, que tento escrever um diário sobre o momento que vivo (…). Geralmente aborrece-me escrever sobre mim, mas atrai-me a leitura dos escritores ou artistas que falam de si próprios. (…) Se queremos fazer um registo completo da nossa vida, incluindo os mais pequenos pormenores, julgo que o prazer reside em sermos nós próprios a extraí-los, a recordá-los e a dar-lhes forma à base de palavras. Creio que é esse o jogo de refletir ou de nos sentirmos refletidos na página como se esta fosse um espelho.” (pp. 195-196)
Apesar de a certa altura o autor afirmar que “Não há nada mais oposto a um romancista do que um realizador/guionista” (p. 208), algumas das histórias apresentam-nos, contudo, o lado mais pessoal e intimista de Pedro Almodóvar, que chega mesmo a falar-nos de um ex-companheiro, e apresenta um pouco do processo criativo que ambos desenvolveram. Ainda que nem todos estes contos evidenciem uniformemente rasgos de génio criativo, há histórias tão intrigantes quanto divertidas, para gostos diversos.
Pedro Almodóvar nasceu em Calzada de Calatrava, Espanha, em 1949. Figura icónica da cultura ocidental contemporânea, é o realizador de cinema, guionista e produtor espanhol com mais alcance mundial nas últimas décadas. Da sua filmografia, constam 24 longas-metragens, com êxitos estrondosos como Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988), Tudo sobre a minha mãe (1999), Fala com ela (2002) ou Dor e glória (2019). Recebeu os principais prémios cinematográficos internacionais – dois Óscares, dois Globos de Ouro, um Leão de Ouro, dois prémios no Festival de Cannes e seis Goya. Foi distinguido, em Espanha, com o Prémio Nacional de Cinematografia (1990), a Medalha de Ouro de Mérito em Belas Artes (1998) e o Prémio Príncipe das Astúrias das Artes (2006). Em França, foi nomeado Oficial da Ordem das Artes e Letras (1994) e ordenado Cavaleiro da Legião de Honra (1997). Foi ainda agraciado com o doutoramento honoris causa pelas universidades de Castilla la Mancha (1999), Harvard (2009) e Oxford (2016). Em 1981, publicou a novela Fuego en las entrañas e, dez anos mais tarde, o volume de crónicas Patty Diphusa.
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